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Um Destino De DragГµes
Morgan Rice


Anel Do Feiticeiro #3
UM DESTINO DE DRAGÕES (Livro #3 da Série: O Anel do Feiticeiro) mergulhará os leitores cada vez mais profundamente na jornada épica de Thor para converter-se em um guerreiro enquanto ele viaja através do Mar de Fogo até a Ilha da Névoa do Dragão. Um lugar implacável que abriga os guerreiros de elite do mundo. Os poderes e habilidades de Thor se desenvolvem enquanto ele treina. Suas amizades se aprofundam também, à medida que eles enfrentam juntos, adversidades superiores ao poderiam imaginar. Mas como eles estão diante de monstros inimagináveis, A Centena rapidamente deixa de ser apenas uma sessão de treinamento para tornar-se uma questão de vida ou morte, a qual nem todos vão sobreviver. Ao longo do caminho, os sonhos de Thor, juntamente com seus encontros misteriosos com Argon continuarão a atormentá-lo; a pressioná-lo para tentar aprender mais sobre quem ele é; sobre quem é sua mãe; sobre qual é a origem dos seus poderes. Qual é o seu destino? No Reino do Anel os assuntos estão ficando muito piores. Como Kendrick está preso, Gwendolyn sente sobre seus ombros a responsabilidade de tentar salvá-lo, para salvar o Anel por destituir seu irmão Gareth. Ela inicia, junto com seu irmão Godfrey, uma verdadeira caçada em busca de pistas para encontrar o assassino de seu pai, e ao longo do caminho, os dois se tornarão muito mais próximos, unidos pela causa. No entanto, Gwendolyn encontra-se em perigo mortal já que ela chega bem perto da verdade e ignora o perigo em que se encontra.





Morgan Rice

UM DESTINO DE DRAGГ•ES LIVRO #3 O ANEL DO FEITICEIRO




Sobre Morgan Rice

Morgan Rice é a autora do best-seller #1 DIÁRIOS DE VAMPIROS, uma série destinada a jovens adultos composta por onze livros (mais em progresso); da série de Best-seller #1 – TRILOGIA DE SOBREVIVÊNCIA, um thriller pós-apocalíptico que compreende dois livros (outro será adicionado); a série número um de vendas, O ANEL DO FEITICEIRO, composta por treze livros de fantasia épica (outros serão acrescentados).



Os livros de Morgan estão disponíveis em áudio e página impressa e suas traduções estão disponíveis em: alemão, francês, italiano, espanhol, português, japonês, chinês, sueco, holandês, turco, húngaro, checo e eslovaco (em breve estarão disponíveis em mais idiomas).



Morgan apreciará muitíssimo seus comentários, por favor, fique à vontade para visitar www.morganricebooks.com (http://www.morganricebooks.com/) faça parte de nosso newsletter, receba um livro gratuito, ganhe brindes, baixe nosso aplicativo gratuito, obtenha as novidades exclusivas em primeira mão, conecte-se ao Facebook e Twitter, permaneça em contato!



CrГ­tica aclamada sobre Morgan Rice

“O ANEL DO FEITICEIRO reúne todos os ingredientes para um sucesso instantâneo: tramas, intrigas, mistério, bravos cavaleiros e florescentes relacionamentos repletos de corações partidos, decepções e traições. O livro manterá o leitor entretido por horas e agradará a pessoas de todas as idades. Recomendado para fazer parte da biblioteca permanente de todos os leitores do gênero de fantasia.”

–-Books and Movie Reviews, Roberto Mattos.



“Rice faz um trabalho magnífico ao atrair você para a história desde o início, utilizando uma grande qualidade descritiva que transcende a mera imagem do cenário… Muito bem escrito e de uma leitura extremamente rápida.”

–-Black Lagoon Reviews (referindo-se a Turned)



“Uma história ideal para jovens leitores. Morgan Rice fez um bom trabalho, dando uma interessante reviravolta na trama… Refrescante e original. As séries giram em torno de uma garota… Uma jovem extraordinária!… Fácil de ler, mas com um ritmo de leitura extremamente acelerado… Classificação10 pelo MJ/DEJUS.”

–-The Romance Reviews (referindo-se a Turned)



“Captou a minha atenção desde o início e eu não pude soltá-lo… Esta é uma história de aventura incrível que combina agilidade e ação desde o início. Você não encontrará nela nenhum momento maçante.”

–-Paranormal Romance Guild (referindo-se a Turned)



“Carregado de ação, romance, aventura e suspense. Ponha suas mãos nele e apaixone-se novamente.”

–-Vampirebooksite.com (referindo-se a Turned)



“Uma ótima trama, este é especialmente o tipo de livro que lhe dará trabalho soltar à noite. O final é tão intrigante e espetacular que fará com que você queira comprar imediatamente o livro seguinte, só para ver o que acontecerá.”

–-The Dallas Examiner (referindo-se a Loved)



“Um livro que é um rival digno de CREPÚSCULO (TWILIGHT) e AS CRÔNICAS VAMPIRESCAS (VAMPIRE DIARIES) e que fará com que você deseje continuar lendo sem parar até a última página! Se você curte aventura, amor e vampiros este é o livro ideal para você!”

–-Vampirebooksite.com (referindo-se a Turned)



“Morgan Rice mais uma vez mostra ser uma narradora extremamente talentosa… Esta narrativa atrairá uma grande variedade de público, incluindo os fãs mais jovens do gênero vampiro/fantasia. Terminou com uma situação de suspense tão inesperada que o deixará chocado.”

–-The Romance Reviews (referindo-se a Loved)



Livros de Morgan Rice




O ANEL DO FEITICEIRO


EM BUSCA DE HERГ“IS (Livro #1)


UMA MARCHA DE REIS (Livro #2)


UM DESTINO DE DRAGГ•ES (Livro #3)


UM GRITO DE HONRA (Livro #4)


UM VOTO DE GLГ“RIA (Livro #5)


UMA CARGA DE VALOR (Livro #6)


UM RITO DE ESPADAS (Livro #7)


UM ESCUDO DE ARMAS (Livro #8)


UM CÉU DE FEITIÇOS (Livro #9)


UM MAR DE ESCUDOS (Livro #10)


UM REINADO DE AÇO (Livro #11)


UMA TERRA DE FOGO (Livro #12)


UM GOVERNO DE RAINHAS (Livro #13)




TRILOGIA DE SOBREVIVГЉNCIA


ARENA UM: TRAFICANTES DE ESCRAVOS (Livro #1)


ARENA DOIS (Livro #2)




DIГЃRIOS DE UM VAMPIRO


TRANSFORMADA (Livro #1)


AMADA (Livro #2)


TRAГЌDA (Livro #3)


DESTINADA (Livro #4)


DESEJADA (Livro #5)


PROMETIDA EM CASAMENTO (Livro #6)


JURADA (Livro #7)


ENCONTRADA (Livro #8)


RESSUSCITADA (Livro #9)


SUPLICADA (Livro #10)


DESTINADA (Livro #11)












Ouça (http://www.amazon.com/Quest-Heroes-Book-Sorcerers-Ring/dp/B00F9VJRXG/ref=la_B004KYW5SW_1_13_title_0_main?s=books&ie=UTF8&qid=1379619328&sr=1-13) a série O ANEL DO FEITICEIRO em formato audiobook!




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iTunes (https://itunes.apple.com/us/audiobook/quest-heroes-book-1-in-sorcerers/id710447409)


Copyright В© Morgan Rice 2014



Todos os direitos reservados. Exceto os permitidos, sujeitos à Lei de direitos autorais dos Estados Unidos de 1976, nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida; distribuída; ou transmitida, em qualquer forma ou por qualquer meio; ou armazenada em um banco de dados ou sistema de recuperação, sem a prévia autorização da autora.



Este e-book Г© licenciado unicamente para seu usufruto pessoal. Este e-book nГЈo pode ser revendido ou cedido a outras pessoas. Caso vocГЄ deseje compartilhar este livro com outra pessoa, por favor, adquira uma cГіpia extra para cada uma delas. Se vocГЄ estiver lendo este livro sem o haver comprado, ou o mesmo nГЈo foi adquirido para seu uso exclusivo, por gentileza, devolva-o e adquira sua prГіpria cГіpia. Obrigada por respeitar o trabalho ГЎrduo desta autora.



Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, empresas, organizações, lugares, eventos e incidentes ou são o produto da imaginação da autora ou são utilizados ficcionalmente. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, é mera coincidência.



A imagem de capa é de Bob Orsillo e usada sob licença da Shutterstock.com.


“Não te interponhas entre o dragão e sua ira.”

    —William Shakespeare
В В В В Rei Lear






CAPГЌTULO UM


O Rei McCloud, montado em seu cavalo, iniciou a marcha ladeira abaixo. Ele estava totalmente determinado, disposto a tudo e corria através das Highlands, entrando nas terras do lado do Anel que pertenciam aos MacGils, seguido por centenas de seus homens. Ele tomou seu chicote, levantou-o e desceu-o com força sobre o couro do cavalo. O cavalo não precisava de estímulo, mas mesmo assim ele gostava de chicoteá-lo. Ele gostava de infligir dor aos animais.

McCloud estava praticamente babando enquanto apreciava a vista diante dos seus olhos: uma vila MacGil idílica, os seus homens nos campos, desarmados, suas mulheres em casa, pendurando lençóis recém lavados para secar e vestidas com pouca roupa devido ao calor do verão. As portas das casas estavam abertas; galinhas perambulavam livremente; o jantar já fervia nos caldeirões. Ele pensou no estrago que faria; nos despojos que obteria; nas mulheres cuja vida ele iria arruinar e seu sorriso alargou-se. Ele quase podia saborear o sangue que estava prestes a derramar.

Eles avançavam cada vez mais, os cascos de seus cavalos estrondavam como um trovão, ecoando sobre o campo, quando finalmente, alguém notou sua chegada: o guarda da aldeia, um projeto patético do que viria a ser um soldado: um adolescente segurando uma lança. O jovem se levantou e virou-se ao ouvi-los aproximar-se. McCloud deu uma boa olhada nos olhos dele, viu o medo e o pânico em seu rosto; naquele posto de guarda tedioso, aquele garoto provavelmente nunca tinha visto uma batalha em sua vida. Ele estava lamentavelmente, despreparado.

McCloud nГЈo perdeu tempo, ele queria ser o primeiro a matar, como sempre fazia na batalha. Seus homens sabiam muito bem que a primeira morte deveria ser concedida a ele.

Ele chicoteou o cavalo novamente até que o animal relinchou e ganhou velocidade, colocando-se mais à frente dos outros. Ele levantou a lança que havia sido de seus antepassados, uma coisa pesada de ferro, inclinou-se para trás e atirou-a no jovem soldado.

Como sempre, sua pontaria era certeira, o garoto mal tinha podido voltar-se quando a lança atingiu suas costas, traspassando-o e prendendo-o a uma árvore, com um ruído sibilante. O sangue jorrou de suas costas e isso foi suficiente para fazer o dia de McCloud.

McCloud soltou um curto grito de alegria enquanto todos eles continuavam a avançar por toda a terra seleta dos MacGils. Ele avançava por entre os de pés de milho amarelos que balançavam ao vento, cuja altura chegava até as coxas de seu cavalo, em direção à porta da aldeia. O dia estava tão lindo, sua imagem era quase bonita demais para a devastação que eles estavam prestes a causar.

Eles passaram pelo portão da aldeia, o qual se encontrava totalmente desprotegido, aquele lugar estúpido o suficiente para situar-se na periferia do Anel, tão perto das Highlands. Eles deveriam ter pensado melhor, McCloud pensou com desprezo, quando ele balançou um machado e cortou o cartaz de madeira que sinalizava o lugar. Logo ele daria um novo nome àquele lugar.

Seus homens entraram no lugar e tudo em volta deles transformou-se em uma explosão de gritos: gritos das mulheres, das crianças, dos velhos, de qualquer um que estivesse em casa naquele lugar esquecido por Deus. Havia provavelmente uma centena de almas infelizes e McCloud estava determinado a fazer com que cada uma delas pagasse caro. Ele levantou seu machado bem alto enquanto se concentrava em uma mulher em particular, correndo de costas para ele, tentando a todo custo voltar para a segurança de sua casa. Ela jamais conseguiu chegar.

O machado de McCloud golpeou a parte de trГЎs da panturrilha da mulher, tal como ele queria e ela caiu com um grito. Ele nГЈo queria matГЎ-la: apenas mutilГЎ-la. Afinal de contas, ele queria que ela estivesse viva para o prazer que teria com ela depois. Ele tinha escolhido bem: uma mulher com cabelos loiros rebeldes e quadris estreitos e com aproximadamente dezoito anos. Ela seria sua e depois de terminar com ela, provavelmente ele a matasse. Ou talvez nГЈo, talvez ele a mantivesse como sua escrava.

Ele gritou de prazer ao cavalgar ao lado da mulher e saltou de seu cavalo no meio do galope, caindo em cima dela e lutando com ela no chão. Ele rolou com ela na terra, sentindo o impacto da estrada e sorriu enquanto deliciava-se com a sensação de estar vivo.

Finalmente, a vida tinha significado novamente.




CAPГЌTULO DOIS


Kendrick estava no olho do furacão, no Salão de Armas, ladeado por dezenas de seus irmãos, todos eles membros aguerridos do Exército Prata. Ele olhava calmamente para Darloc, o comandante da guarda real, enviado em uma missão infeliz. O que Darloc estava pensando? Será que ele realmente pensava que poderia marchar pelo Salão de Armas e tentar prender Kendrick, o mais amado da família real, na frente de todos os seus irmãos de armas? Será que ele realmente pensava que os outros iriam ficar de braços cruzados e permitir tal coisa?

Ele subestimava a lealdade do Exército Prata a Kendrick. Mesmo que Darloc tivesse chegado com um mandato de prisão legítimo para arrestá-lo – e aquele certamente não o era – Kendrick duvidava muito que seus irmãos permitissem que ele fosse levado embora. Eles eram leais a ele por toda a vida e leais até a morte. Esse era o credo do Exército Prata. Ele teria reagido da mesma forma se algum de seus irmãos fosse ameaçado. Afinal, todos tinham treinado juntos e lutado juntos por suas vidas.

Kendrick podia sentir a tensão pairando no silêncio espesso, quando o Exército prata empunhou suas armas contra apenas uma dúzia de guardas reais, os quais estavam num pé e noutro, nervosos, cada vez mais incômodos com aquela situação. Eles deviam ter imaginado que seria um massacre se algum deles tentasse sacar sua espada, e, sabiamente, ninguém fez isso. Todos eles estavam ali e aguardavam a ordem de seu comandante, Darloc.

Darloc engoliu em seco e se notava que estava muito nervoso. Ele percebia que sua causa era inГєtil.

“Parece que você não veio com homens suficientes.” Respondeu calmamente Kendrick, sorrindo. “Uma dúzia de guardas do rei contra uma centena de soldados do Exército Prata. A sua é uma causa perdida.”

Darloc ficou muito pГЎlido. Ele limpou a garganta.

“Meu senhor, nós todos servimos ao mesmo reino. Eu não quero lutar contra Vossa Alteza. Vossa alteza tem razão: esta é uma luta que nós não poderíamos vencer. Se Vossa alteza nos ordenar, nós deixaremos este lugar e voltaremos para o Rei.”

“No entanto, Vossa Alteza sabe que Gareth simplesmente enviaria mais homens para prendê-lo. Homens diferentes. Vossa Alteza sabe até onde isso nos levaria. Vossa alteza poderá matar todos eles, mas será que realmente quer sujar suas mãos com o sangue de seus irmãos? Será que realmente quer desencadear uma guerra civil? Seus homens arriscariam suas vidas por Vossa Alteza, matariam qualquer um. Mas será que isso é justo para eles?”

Kendrick olhou para Darloc pensando em tudo o que ele lhe dissera. Darloc tinha um ponto a seu favor. Kendrick sentia um enorme desejo de proteger seus irmãos de armas de qualquer derramamento de sangue, sem importar o que isso lhe custasse. E mesmo que seu irmão Gareth fosse terrível e, além disso, um péssimo um governante, Kendrick não queria uma guerra civil, pelo menos, não queria ser responsável por iniciá-la. Havia outras maneiras de lidar com a situação. Kendrick sabia que um confronto direto nem sempre era a forma mais eficaz.

Kendrick se aproximou e baixou lentamente a espada de seu amigo Atme. Ele se virou e olhou para os outros soldados do ExГ©rcito Prata. Seu peito encheu de gratidГЈo a eles por eles terem ido em sua defesa.

“Meus camaradas do Prata.” Anunciou Kendrick. “Eu estou comovido com sua defesa e eu lhes asseguro que ela não foi em vão. Todos vocês me conhecem, todos sabem que eu não tive nada a ver com a morte de meu pai, nosso ex-rei. Quando eu encontrar o verdadeiro assassino, o qual eu suspeito que eu já tenha encontrado, dada a natureza dessas ordens, serei o primeiro a obter vingança. Eu estou sendo falsamente acusado. Dito isso, eu não quero ser o estopim de uma guerra civil. Então, por favor, baixem os braços. Eu permitirei que me levem em forma pacífica, visto que creio firmemente que nenhum dos membros do Anel jamais deve lutar contra o outro. Se a justiça existir, a verdade virá à tona e então eu serei liberado e regressarei a vocês imediatamente.”

O grupo do Exército Prata, lentamente, baixou os braços com relutância, quando Kendrick voltou-se para Darloc. Kendrick adiantou-se e caminhou com Darloc para a porta, os guardas do rei o rodeavam. Kendrick caminhou orgulhosamente no meio deles, com a cabeça erguida. Darloc não tentou algemá-lo, talvez por respeito, talvez por medo, ou talvez porque soubesse que ele era inocente. Kendrick se deixaria levar para sua nova prisão. Mas ele não iria ceder tão facilmente. De alguma forma, ele iria limpar o seu nome, se libertaria do calabouço e mataria o assassino de seu pai. Mesmo que o assassino fosse o seu próprio irmão.




CAPГЌTULO TRГЉS


Gwendolyn estava nas entranhas do castelo e seu irmão Godfrey estava ao seu lado. Ela olhava para Steffen enquanto ele estava lá, num pé e noutro nervoso, torcendo as mãos. Ele era um personagem estranho, não só porque era deformado e corcunda, mas também porque ele parecia estar cheio de uma energia nervosa. Seus olhos nunca paravam quietos, suas mãos estavam cruzadas entre si, como se estivessem arruinadas pela culpa. Ele estava de pé e balançava o corpo apoiando-se ora num pé, ora noutro e cantarolava para si mesmo com uma voz profunda. Gwen percebeu que todos aqueles anos ali embaixo, todos aqueles anos de isolamento tinham claramente feito dele um ser muito estranho.

Gwen tinha a esperança de que ele finalmente se abriria para revelar o que tinha acontecido com o pai dela. Mas, enquanto os segundos se transformavam em minutos, enquanto o suor aumentava na testa de Steffen, enquanto ele balançava cada vez mais dramaticamente, nada acontecia. Continuou a haver apenas um silêncio pesado, espesso, interrompido apenas por seus zumbidos.

Gwen estava começando a suar também ali embaixo, com o crepitar dos fogos muito próximos dela naquele dia de verão. Ela queria terminar com aquilo, deixar aquele lugar e nunca mais voltar. Ela examinou Steffen, tentando decifrar sua expressão, para descobrir o que passava por sua mente. Ele havia prometido que ia contar-lhes algo, mas agora ele tinha caído em silêncio. Enquanto ela o examinava, parecia que ele estava tendo dúvidas. Ele estava claramente com medo; ele estava ocultando algo.

Finalmente, Steffen limpou a garganta.

“Algo caiu da rampa, naquela noite, eu admito.” Ele começou a falar sem fazer contato visual, olhando fixamente para o chão. “Mas eu não tenho certeza do que era. Era metal. Nós levamos o pote sanitário para fora naquela noite e eu ouvi algo cair no rio. Algo diferente.” Ele disse, limpando a garganta várias vezes enquanto torcia as mãos. “Vocês sabem, aquela coisa, o que quer que ela tenha sido… ela foi arrastada pela correnteza.”

“Você está certo disso?” Godfrey perguntou com firmeza.

Steffen assentiu com a cabeça vigorosamente.

Gwen e Godfrey trocaram um olhar.

“Você pelo menos deu uma olhada nela?” Godfrey pressionou.

Steffen abanou a cabeça.

“Mas você mencionou um punhal. Como sabia que era um punhal, se você não viu um?” Gwen perguntou. Ela sentia que ele estava mentindo. Ela só não sabia o porquê.

Steffen pigarreou.

“Eu disse isso porque eu achei que era um punhal.” Ele respondeu. “Era algo pequeno e de metal. O que mais poderia ser?”

“Mas você verificou se estava no fundo do pote?” Godfrey perguntou. “Depois que você despejou tudo no rio? Talvez esteja ainda no pote, na parte do fundo.”

Steffen abanou a cabeça.

“Eu verifiquei o fundo.” Ele disse. “Eu sempre faço isso. Não havia nada. Estava vazio. O que quer que tenha sido, foi levado pela corrente. Eu o vi flutuar.”

“Se fosse de metal, como poderia flutuar?” Gwen perguntou.

Steffen limpou a garganta e em seguida deu de ombros.

“O rio é misterioso.” Ele respondeu. “A correnteza é forte.”

Gwen trocou um olhar cГ©tico com Godfrey e ela podia dizer pela expressГЈo dele que ele tampouco acreditava em Steffen.

Gwen estava cada vez mais impaciente. Agora, ela tambГ©m estava desconcertada. Apenas momentos antes, Steffen ia contar-lhes tudo, tal como havia prometido. Agora parecia que, de repente, ele tinha mudado de ideia.

Gwen deu um passo para mais perto dele e franziu o rosto, sentindo que aquele homem tinha algo a esconder. Ela endureceu a expressão de seu rosto ao máximo e quando ela o fez, sentiu a força de seu pai brotando através dela. Ela estava determinada a descobrir tudo o que Steffen sabia, especialmente se isso pudesse ajudá-la a encontrar o assassino de seu pai.

“Você está mentindo.” Ela disse com a voz fria como o aço. A força de sua voz surpreendeu a ela mesma. “Você sabe qual é o castigo por mentir para um membro da família real?”

Steffen torceu as mГЈos e quase deu um pulo de susto, ele olhou para Gwen por um momento e em seguida desviou o olhar rapidamente.

“Lamento muito.” Ele disse. “Eu sinto muito. Por favor, eu não tenho mais nada a dizer.”

“Você nos perguntou antes se seria poupado da prisão se nos contasse o que sabia.” Disse ela. “Mas você não nos disse nada. Porque você iria fazer essa pergunta se não tivesse nada para contar?”

Steffen lambeu os lГЎbios, olhando para o chГЈo.

“Eu… eu… hã.” Ele começou e parou. Ele pigarreou. “Eu estava preocupado… pensando que ia ficar em apuros se não relatasse que um objeto tinha descido pela rampa. Isso é tudo. Desculpe-me. Eu não sei o que era. Ele se foi, sumiu.”

Gwen estreitou os olhos, olhando para ele, tentando chegar ao fundo daquele personagem estranho.

“O que aconteceu exatamente com seu amo?” Ela perguntou, sem deixar de enredá-lo. “Disseram-nos que ele está desaparecido. E também que você tinha algo a ver com isso.”

Steffen balançou a cabeça uma e outra vez.

“Ele se foi.” Steffen respondeu. “Isso é tudo que sei. Desculpem. Eu não sei de nada que possa ajudá-los.”

De repente, ouviu-se um barulho forte de algo que salpicava provindo do alto da sala e todos eles se viraram para ver os dejetos que desciam pela rampa caírem estrepitosamente no enorme pote sanitário. Steffen virou-se e correu apressadamente pela sala, em direção ao pote. Ele ficou ao lado dele, observando-o enquanto ele se enchia com os resíduos dos aposentos superiores.

Gwen virou-se e olhou para Godfrey, quem olhou para ela. Ele tinha a mesma expressГЈo perplexa.

“Seja o que for que ele estiver escondendo.” Ela disse. “Ele não vai nos revelar.”

“Nós deveríamos aprisioná-lo.” Godfrey disse. “Isso poderia fazer com que ele falasse.”

Gwen abanou a cabeça.

“Eu não penso assim. Não funcionaria com alguém como ele. Ele está, obviamente, muito assustado. Eu acho que tem algo a ver com o seu amo. Ele está claramente perturbado com alguma coisa e eu não acho que isso tenha a ver com a morte de nosso pai. Eu acho que ele sabe algo que poderia ajudar-nos, mas eu sinto que encurralá-lo só vai fazer com que ele se feche ainda mais.”

“Então o que deveríamos fazer?” Godfrey perguntou.

Gwen ficou ali, pensando. Lembrou-se de uma amiga de infância dela, a amiga tinha sido apanhada mentindo. Gwen lembrou-se de que os pais haviam pressionado a amiga de todas as maneiras para que ela dissesse a verdade, mas ela não disse. Foi somente algumas semanas mais tarde, quando todo mundo tinha finalmente deixado a jovem em paz, que ela se apresentou voluntariamente e revelou tudo. Gwen sentiu a mesma energia saindo de Steffen, ela sentia que encurralá-lo num canto só faria com que ele se fechasse ainda mais, ele precisava de espaço para tomar a iniciativa de falar tudo o que ele sabia.

“Vamos dar-lhe tempo.” Ela disse. “Vamos procurar em outro lugar. Vamos ver o que podemos descobrir e voltaremos para ele quando tivermos mais. Acho que ele vai se abrir. Ele só não está pronto ainda.”

Gwen virou-se e observou Steffen do outro lado do quarto, examinando os resГ­duos enquanto eles enchiam o enorme pote. Ela sentia que ele os levaria atГ© o assassino do seu pai. Ela sГі nГЈo sabia como. Ela se perguntava que segredos se escondiam nas profundezas da sua mente.

Ele era um personagem muito estranho, Gwen pensou. Na verdade, muito estranho.




CAPГЌTULO QUATRO


Thor tentava respirar e piscava com força para expulsar a água que caía sobre ele, ela cobria seus olhos, seu nariz, sua boca e caía como uma cascata ao seu redor. Depois de escorregar por todo o barco, ele finalmente conseguiu segurar o corrimão de madeira e agarrou-se a ele para salvar a vida quando a água implacável o forçava a soltar-se. Cada músculo de seu corpo tremia e ele não sabia por quanto tempo ele poderia segurar-se.

Todos os seus irmãos ao redor dele faziam o mesmo, todos se agarravam com todas suas forças a tudo o que pudessem encontrar enquanto a água tentava levá-los para fora do barco. De alguma forma, eles se mantinham firmes.

O barulho era ensurdecedor e era difícil enxergar mais do que alguns metros à frente dele. Apesar do dia de verão a chuva estava fria e a água provocava calafrios em seu corpo fazendo-o tremer constantemente. Kolk estava ali, de cara amarrada, mãos na cintura, como se fosse imune à muralha d’água, ele gritava com todos ao seu redor.

“VOLTEM AOS SEUS LUGARES!” Ele gritou. “REMEM!”

Kolk também se sentou e começou a remar, dentro de poucos instantes os rapazes começaram a escorregar e engatinhar pelo convés, tentando voltar para os bancos. O coração de Thor batia agitado quando ele soltou-se e lutou para atravessar o convés. Ele escorregou e caiu, aterrissando com força no convés. Krohn, que estava dentro de sua camisa, ganiu assustado.

Ele se arrastou pelo resto do caminho e logo se encontrou em seu lugar.

“AMARREM-SE!” Kolk exclamou.

Thor olhou para baixo e viu as cordas nodosas sob seu banco, ele finalmente percebeu a utilidade delas. Ele se abaixou e amarrou uma em torno de seu pulso, atando-se ao banco e ao remo.

Funcionou. Ele parou de escorregar. E logo foi capaz de remar.

Todos os rapazes ao seu redor voltaram aos remos, Reece estava em um assento a sua frente e Thor podia sentir o barco em movimento. Em poucos minutos, a muralha d’água a sua frente foi ficando mais fina.

Enquanto ele remava e remava, sua pele ardia com aquela estranha chuva, cada músculo de seu corpo estava dolorido. Finalmente, o som da chuva começou a diminuir e Thor começou a sentir que o volume de água que caía  sobre sua cabeça era bem menor. Em poucos instantes, eles se encontravam sob um céu ensolarado.

Thor olhou em volta assombrado: o cГ©u estava completamente seco e brilhante. Era a coisa mais estranha que ele jГЎ tinha experimentado: metade do barco estava debaixo de um sol seco, brilhante, enquanto a outra metade estava sendo inundada pela muralha de ГЎgua enquanto eles terminavam de passar por ela.

Finalmente, o barco inteiro estava sob um cГ©u azul e amarelo claro, o sol quente batendo neles. Tudo era silГЄncio agora, a muralha de ГЎgua ia desaparecendo rapidamente e todos os seus irmГЈos de armas se entreolhavam atordoados. Era como se tivessem atravessado uma cortina e ingressado em outro mundo.

“CESSAR REMOS!” Kolk gritou.

Todos os rapazes incluindo Thor deixaram cair seus remos com um gemido coletivo, ofegantes, tentando recuperar seu fГґlego. Thor fez o mesmo, sentindo tremer cada mГєsculo de seu corpo, ele estava grato por ter uma pausa e se deixou cair pesadamente, tentando recuperar o fГґlego e relaxar os mГєsculos doloridos enquanto o barco deslizava por novas ГЎguas.

Thor finalmente recuperou-se, levantou-se e olhou em volta. Ele olhou para a ГЎgua e viu que ela tinha mudado de cor: ela agora tinha um tom avermelhado e brilhante. Eles tinham entrado em um mar diferente.

“O Mar dos Dragões.” Reece disse detrás dele, olhando também para baixo admirado. “Dizem que ele fica vermelho com o sangue de suas vítimas.”

Thor olhou para a ГЎgua. Ela borbulhava em alguns lugares e Г  distГўncia, animais estranhos vinham momentaneamente Г  tona, porГ©m logo se submergiam. Nenhum demorava o tempo suficiente para que ele pudesse dar uma boa olhada neles, mas Thor nГЈo queria tentar a sorte e se inclinar para baixo, ele nГЈo queria aproximar-se mais.

Thor virou-se e tentou entender tudo aquilo, desorientado. Tudo ali, daquele lado da muralha de ГЎgua, parecia tГЈo estranho, tГЈo diferente. Havia atГ© mesmo uma ligeira nГ©voa vermelha no ar pairando baixo sobre a ГЎgua. Ele examinou o horizonte e viu dezenas de pequenas ilhas espalhadas como uma trilha de pedras despontando no horizonte.

Uma brisa forte atingiu o barco e Kolk se adiantou e gritou:

“LEVANTAR VELAS!”

Thor entrou em ação junto com todos os rapazes ao seu redor, agarrou as cordas e içou-as para pegar a brisa. As velas se inflaram com uma rajada de vento e começaram a impulsar o barco. Thor sentia o barco mover-se abaixo deles, mais rápido do que jamais havia feito, seguindo rumo às ilhas. O barco balançava sobre as ondas enormes que surgiam do nada, movendo-se suavemente para cima e para baixo.

Thor fez o seu caminho em direção à proa, encostou-se na amurada e olhava para o horizonte. Reece veio ao seu lado e O’Connor também. Todos estavam lado a lado. Thor observava o conjunto de ilhas que se aproximava rapidamente. Todos ficaram ali em silêncio por um longo tempo, Thor saboreava a brisa úmida enquanto o seu corpo relaxava.

Finalmente, Thor percebeu que se dirigiam a uma ilha em particular. ГЂ medida que eles se aproximavam, ela ficava cada vez maior e Thor sentiu um calafrio quando ele percebeu que a ilha era o seu destino.

“A Ilha da Neblina.” Reece disse admirado.

Thor examinava a ilha, maravilhado. Sua forma começou a entrar em foco. A ilha era rochosa, escarpada, inóspita e se estendia por vários quilômetros em cada sentido, era longa e estreita e tinha a forma de uma ferradura. Ondas enormes colidiam contra sua costa, fazendo um barulho surdo que podia ser ouvido até mesmo de onde eles estavam. As ondas criavam enormes jatos de espuma quando se chocavam contra as rochas enormes. Havia uma faixa de terra ínfima além das rochas e depois uma parede de falésias que se elevava bem alto. Thor não podia ver como o barco poderia ancorar com segurança.

Somando-se a estranheza do lugar, uma névoa vermelha permanecia por toda a ilha, como um orvalho, brilhando ao sol. A névoa causava uma sensação sinistra. Thor podia sentir que havia algo de sobre-humano, algo sobrenatural, naquele lugar.

“Dizem que sobreviveu milhões de anos.” Acrescentou O’Connor. “É mais antiga do que o Anel. Mais antiga, até mesmo, do que o Império.”

“Ela pertence aos dragões.” Elden acrescentou, chegando ao lado de Reece.

Enquanto Thor observava, de repente, o segundo sol se pГґs no cГ©u. Em poucos instantes o dia passou de ensolarado e brilhante a estar iluminado apenas pela escassa luz do pГґr do sol e o cГ©u ficou totalmente manchado de tons vermelhos e roxos. Ele nГЈo conseguia acreditar, ele nunca tinha visto o sol mover-se assim, tГЈo rapidamente, antes. Ele se perguntava o que mais seria diferente naquela parte do mundo.

SerГЎ que algum dragГЈo vive na ilha? Thor perguntou.

Elden abanou a cabeça.

“Não. Ouvi dizer que ele vive perto daqui. Eles dizem que a névoa vermelha é formada pela respiração de um dragão. Ele respira à noite em uma ilha vizinha e o vento traz o ar que ele respira, esse ar é a névoa que envolve a ilha durante o dia.”

Thor ouviu um barulho repentino; a princípio parecia um ronco baixo, como um trovão, longo e alto o suficiente para agitar o barco. Krohn ainda estava enrolado na camisa de Thor, ao ouvir o barulho ele abaixou a cabeça e ganiu.

Os outros todos se viraram, Thor virou-se também e olhou; ele teve a impressão de que em algum lugar do horizonte se podia ver o contorno tênue de chamas lambendo o pôr do sol e desaparecendo em seguida na fumaça negra, como se fossem um pequeno vulcão em erupção.

“O Dragão.” Reece disse. “Nós estamos no território dele agora.”

Thor engoliu em seco, pensando.

“Mas então como podemos estar seguros aqui?” O’Connor perguntou.

“Você não está seguro em nenhum lugar.” Disse uma voz retumbante.

Thor virou-se para ver Kolk ali de pГ©, com as mГЈos nos quadris, observando o horizonte sobre seus ombros.

“Este é o sentido da Centena, viver com o risco de morte todos os dias. Este não é um exercício. O dragão vive perto e não há nada que possa impedi-lo de atacar. É provável que ele não ataque, porque ele guarda zelosamente seu tesouro em sua própria ilha e dragões não gostam de deixar seu tesouro desprotegido. Mas vocês vão ouvir seus rugidos e ver suas chamas durante a noite. E se de alguma forma vocês o irritarem, não há como prever o que pode acontecer.”

Thor ouviu outro estrondo baixo, viu outra explosГЈo de fogo no horizonte e percebeu que eles chegavam cada vez mais perto da ilha, as ondas arrebentavam contra ela. Ele olhou para os penhascos Г­ngremes, para uma parede de rocha e se perguntou se eles realmente poderiam chegar atГ© o topo e como eles chegariam Г  terra plana e seca.

“Mas eu não vejo nenhum lugar para atracar um navio.” Thor disse.

“Isso seria fácil demais.” Kolk retrucou.

“Então, como chegaremos à ilha?” O’Connor perguntou.

Kolk sorriu, era um sorriso malvado.

“Vocês nadarão.” Disse ele.

Por um momento, Thor se perguntou se Kolk nГЈo estaria brincando, mas pela expressГЈo de seu rosto Thor percebeu que ele falava sГ©rio. Thor engoliu em seco.

“Nadar?” Reece disse incrédulo.

“As águas estão infestadas de criaturas!” Elden disse.

“Oh, isso é o de menos.” Kolk continuou. “As marés são traiçoeiras; esses redemoinhos sugarão vocês para baixo; essas ondas esmagarão vocês ao lançá-los contra aquelas pedras irregulares; a água é quente e se vocês conseguirem chegar vivos até as rochas, terão de encontrar uma maneira de escalar os penhascos para poder chegar à terra firme. Isso, se as criaturas do mar não pegarem vocês primeiro. Bem-vindos ao seu novo lar.”

Thor ficou lá com os outros ao lado da amurada, olhando para a formação de espuma do mar abaixo dele. A água girava debaixo dele como uma coisa viva, as correntes eram mais fortes a cada segundo e balançavam o barco, tornando mais difícil manter o equilíbrio. Lá embaixo, as águas se enfureciam, produzindo, um vermelho brilhante que parecia conter o sangue do próprio inferno. Pior ainda, ao olhar bem de perto Thor viu que as águas eram perturbadas a cada poucos metros pelo surgimento de outro monstro marinho que emergia, estalava os dentes longos e logo submergia.

O navio ancorou repentinamente, longe da costa e Thor engoliu seco. Ele olhou para as pedras que contornavam a ilha e se perguntou como eles iriam dali atГ© ela. O ruГ­do das ondas arrebentando ficava mais alto a cada segundo, fazendo com que os outros tivessem de gritar para serem ouvidos.

Enquanto Thor observava, vários pequenos barcos a remos foram baixados até a água e em seguida guiados pelos comandantes para longe do navio, permanecendo a uma distância de cerca de trinta metros. Os comandantes não iriam facilitar as coisas para os rapazes, os quais teriam de nadar para alcançar os barcos.

A ideia de ter de nadar fez o estГґmago de Thor revirar.

“PULEM!” Gritou Kolk.

Pela primeira vez, Thor estava apavorado. Ele perguntou-se isso nГЈo o rebaixaria como membro da LegiГЈo e como guerreiro. Ele sabia que os guerreiros deviam ser destemidos em todas as circunstГўncias, mas ele teve de admitir para si mesmo que ele sentia medo naquele instante. Ele odiava o fato de sentir-se assim e desejava que nГЈo estivesse com medo. Mas ele realmente estava.

Porém quando Thor olhou em volta e viu os rostos aterrorizados dos outros garotos, ele se sentiu melhor. Todos os rapazes ao seu redor permaneceram ao lado da amurada, congelados de medo, olhando para as águas. Um garoto em especial, estava tão assustado que todo o seu corpo tremia. Era o garoto que Thor tinha visto no dia do treinamento com os escudos, o único que tivera medo, o que tinha sido forçado a correr mais voltas.

Kolk deve ter percebido isso, porque ele cruzou o convés na direção do rapaz. Kolk parecia inalterado quando o vento jogou o seu cabelo para trás, ele franzia o cenho enquanto prosseguia, parecia estar pronto para conquistar a própria natureza. Ao aproximar-se do garoto ele fechou a carranca.

“PULE!” Kolk gritou.

“Não!” O garoto respondeu. “Eu não posso! Não posso fazer isso! Eu não sei nadar! Leve-me de volta para casa!”

Kolk caminhou até o garoto, que já estava começando a se afastar da amurada, agarrou-o pela parte de trás de sua camisa e levantou-o bem alto.

“Então você vai aprender a nadar!” Kolk rosnou, então ele jogou o garoto por cima da borda. Thor não podia acreditar que isso estivesse acontecendo.

O garoto saiu voando pelo ar, gritando enquanto despencava de uma altura de cerca de cinco metros, no mar espumante. Ele mergulhou produzindo um esguicho, entГЈo veio Г  tona, agitando-se, tentando respirar.

“SOCORRO!” Ele gritava.

“Qual é a primeira lei da Legião?” Kolk gritou, virando-se para os outros rapazes no navio, ignorando o garoto na água.

Thor estava vagamente ciente da resposta correta, mas estava distraГ­do demais com a visГЈo do garoto afogando-se abaixo, para poder responder Г  pergunta de Kolk.

“Ajudar um membro da Legião em necessidade!” Elden exclamou.

“E ele está em necessidade?” Kolk gritou, apontando para o rapaz.

O garoto levantava os braços e batia freneticamente na água, os outros rapazes ficaram no convés olhando-o, todos estavam assustados demais para mergulhar.

Naquele momento, algo estranho aconteceu com Thor. À medida que ele se concentrava no rapaz se afogando, tudo se dissipava. Thor já não pensava em si mesmo. O fato de que ele pudesse morrer nunca sequer passou por sua cabeça. O mar, os monstros, as correntes… tudo isso tinha desaparecido. Tudo em que ele podia pensar agora era em resgatar alguém.

Thor subiu na larga amurada de carvalho, dobrou os joelhos e sem pensar, pulou bem alto para cair de cabeça nas borbulhantes águas abaixo dele.




CAPГЌTULO CINCO


Gareth estava sentado sobre o trono de seu pai, no Salão Real, ele passava as mãos ao longo dos braços de madeira lisa do trono e olhava para a cena diante dele: milhares de seus súditos lotavam a sala, pessoas que provinham de todos os recantos do Anel para assistir a um evento único em suas vidas, elas estavam ali para ver se ele poderia empunhar a Espada da Dinastia. Para ver se ele era o Escolhido. Desde que o seu pai era jovem as pessoas nunca tinham tido a oportunidade de assistir a uma cerimônia de elevação e parecia que ninguém queria perdê-la. A excitação pairava no ar como uma nuvem.

O próprio Gareth estava entorpecido com a expectativa. Enquanto ele observava a sala continuar a encher com as pessoas que se apinhavam ali dentro, ele começou a se perguntar se os conselheiros de seu pai não teriam razão: se, de fato, não tinha sido uma má ideia conduzir a cerimônia de elevação no Salão Real e abri-lo para o público. Eles tinham lhe exortado a tentar fazê-lo na pequena sala privada onde a espada se encontrava; tinham argumentado que se por acaso ele falhasse, poucos testemunhariam isso. Mas Gareth não confiava nas pessoas do círculo de seu pai; ele se sentia mais confiante em seu destino do que a velha guarda de seu pai. Ele queria que todo o reino testemunhasse o evento; que testemunhasse que ele era o Escolhido, no exato momento em que isso acontecesse. Ele queria que o momento ficasse gravado no tempo. O momento em que seu destino havia chegado.

Gareth entrou no salГЈo com atitude, ele cruzou o SalГЈo Real acompanhado por seus assessores, ele usava sua coroa, seu manto e empunhava seu cetro. Ele queria que todos soubessem que era ele o verdadeiro rei, o verdadeiro MacGil, nГЈo o seu pai.

Enquanto ele esperava, não tardou muito tempo para que ele sentisse que aquele era o seu castelo, aqueles eram seus súditos. Ele queria que o seu povo sentisse aquilo naquele momento, que aquela demonstração de poder fosse vista amplamente. Depois daquele dia, eles saberiam com certeza que ele era o seu único e verdadeiro rei.

Mas agora que Gareth estava sentado ali, sozinho no trono, ele jГЎ nГЈo estava tГЈo seguro. Ele olhava para os suportes de ferro no centro da sala, eles estavam iluminados por um raio de sol que entrava pelo teto e a espada seria colocada sobre eles. A gravidade do que ele estava a ponto de fazer pesava sobre ele, seria um passo irreversГ­vel, nГЈo haveria como voltar atrГЎs. E se, de fato, ele nГЈo conseguisse? Ele tentou afastar essa ideia de sua mente.

A enorme porta se abriu com um rangido do outro lado da sala e depois de um burburinho animado a sala ficou em silêncio com a expectativa. Uma dúzia dos homens mais fortes da corte marchava segurando a espada em suas mãos, todos lutando sob o seu peso. Seis homens estavam de cada lado, marchando devagar, um passo de cada vez, carregando a espada em direção a seu lugar de descanso.

O coração de Gareth acelerou enquanto ele a observava chegar mais perto. Por um breve momento sua confiança o abandonou. Aqueles doze homens eram maiores do que qualquer outro homem que ele já tinha visto, se eles mal conseguiam segurá-la, que chance ele tinha? Mas ele tentou afastar tais pensamentos de sua mente, afinal, a espada tinha a ver com o destino, não com a força. E ele se forçou a lembrar que o seu destino era estar ali, era ser o primogênito dos MacGils, era ser rei. Ele procurou Argon entre a multidão, por algum motivo ele teve um súbito e intenso desejo de buscar seu conselho. Aquele era o momento em que Gareth mais precisava dele. Por alguma razão, ele não conseguia pensar em mais ninguém. Mas, claro, Argon estava longe de ser encontrado.

Finalmente, os doze homens alcançaram o centro da sala carregando a espada até o raio de sol e colocaram-na sobre os suportes de ferro. Ela caiu com um estrondo, o som viajou em ondas por toda a sala. A sala ficou completamente em silêncio.

A multidГЈo instintivamente se separou, abrindo caminho para que Gareth descesse atГ© a espada e a erguesse.

Gareth lentamente se levantou de seu trono saboreando o momento, saboreando toda aquela atenção. Ele podia sentir todos os olhos sobre ele. Ele sabia que uma ocasião como aquela nunca se apresentaria outra vez, uma ocasião durante a qual todo o reino o observava tão completamente, tão intensamente, analisando cada movimento que ele fazia. Ele tinha vivido aquele momento tantas vezes em sua mente quando ainda era apenas um garoto e agora ele tinha chegado. Ele queria ir devagar.

Gareth descia os degraus do trono, um de cada vez, saboreando cada passo. Ele caminhava sobre o tapete vermelho sentindo sua suavidade debaixo dos pés, ele agora estava cada vez mais perto do raio de sol, seguia em direção à espada. Enquanto andava, era como se andasse em um sonho. Sentia-se eufórico. Uma parte dele se sentia como se tivesse andado sobre aquele tapete muitas vezes anteriormente, depois de ter erguido a espada um milhão de vezes em seus sonhos. Isso o fez sentir-se ainda mais confiante de que ele estava destinado a erguê-la. Ele estava caminhando para alcançar seu destino.

Em sua mente ele via como tudo seria: ele iria avançar corajosamente, estender apenas uma mão e quando seus súditos se inclinassem, de repente e dramaticamente ele elevaria a espada sobre sua cabeça. Eles dariam um suspiro, se prostrariam diante dele e o proclamariam O Escolhido, o mais importante dos reis MacGil que já chegou a governar, aquele destinado a governar para sempre. Eles iriam chorar de alegria diante da visão. Eles se encolheriam de temor diante dele. Eles agradeceriam a Deus por ter vivido para testemunhar isso. Eles iriam adorá-lo como a um deus.

Gareth se aproximou da espada, ela agora se encontrava a poucos metros dele. Ele sentiu tremer por dentro. Embora Gareth tivesse visto a espada muitas vezes anteriormente, ele foi pego de surpresa por sua beleza quando se colocou ao lado dela, sob a luz do sol. Ele nunca tinha tido permissão para estar tão perto da espada antes e sua beleza o surpreendeu. Ela era intensa, sua lâmina era longa e brilhante, feita de um material que ninguém podia identificar. A espada tinha o punho mais ornamentado que ele já tinha visto, o qual estava envolto em um finíssimo tecido sedoso, incrustado com pedras preciosas de todo tipo e estampado com o brasão de um falcão. Quando ele aproximou-se mais da espada, sentiu a energia poderosa que irradiava dela. Ela parecia pulsar. Ele mal podia respirar. Em apenas um momento ela estaria na palma da sua mão, bem alto, sobre sua cabeça; brilhando na luz do sol para que todo o mundo pudesse ver.

Para vГЄ-lo, ele, Gareth, o grande.

Gareth esticou o braço e colocou a mão direita sobre o punho da espada, fechando lentamente os dedos em torno dele, sentindo cada jóia, cada contorno enquanto ele o segurava eletrizado. Uma intensa energia irradiava através da palma de sua mão e subia pelo seu braço, percorrendo seu corpo. Era diferente de tudo que ele já havia sentido. Aquele era seu momento. Seu momento de todos os tempos.

Gareth não se arriscaria, ele estendeu a outra mão para poder apertar o punho com ela também. Ele fechou os olhos, sua respiração se cortou.

Se for da vontade dos deuses, que eles permitam-me elevar a espada. Que eles deem-me um sinal. Que eles mostrem-me que eu sou rei. Que eles mostrem-me que eu estou destinado a governar.

Gareth orava em silГЄncio Г  espera de uma resposta, de um sinal, para o momento perfeito. Mas os segundos se passaram, uns dez segundos, o reino inteiro o observava, no entanto, ele nГЈo ouvia nada.

EntГЈo, de repente ele viu o rosto de seu pai olhando para ele com desprezo.

Gareth abriu os olhos, aterrorizado, querendo limpar a imagem de sua mente. Seu coração batia forte e ele sentiu que aquele era um péssimo presságio.

Era agora ou nunca.

Gareth inclinou-se e tentou erguer a espada com todas as suas forças. Ele lutou com toda a energia que tinha, até que todo o seu corpo tremia convulsionado.

A espada nГЈo se moveu. Era como tentar mover os prГіprios alicerces da Terra.

Gareth tentou com mais força ainda, a luta era cada vez mais difícil. Finalmente, ele estava visivelmente gemendo e gritando.

Momentos depois ele entrou em colapso.

A espada nГЈo tinha se movido nem um centГ­metro.

Um suspiro chocado espalhou-se por toda a sala quando Gareth caiu no chГЈo. VГЎrios assessores correram em seu auxГ­lio, para verificar se ele estava bem, mas ele os empurrou violentamente. Ele se levantou constrangido, tentando recuperar a compostura.

Humilhado, Gareth olhou para seus sГєditos desejando ver como eles iriam vГЄ-lo de agora em diante.

Eles já haviam se virado e começavam a deixar a sala. Gareth podia ver a decepção em seus rostos, podia ver que ele era apenas mais um espetáculo falido aos seus olhos. Agora, tudo o que eles sabiam, todos e cada um deles, era que ele não era o seu verdadeiro rei. Ele não era o Escolhido não era o MacGil destinado a reinar. Ele não era nada. Era apenas mais um príncipe que havia usurpado o trono.

Gareth sentia a vergonha queimando-o. Ele nunca tinha se sentido mais solitário do que naquele momento. Tudo o que ele tinha imaginado, desde quando ele ainda era uma criança, tinha sido uma mentira. Uma ilusão. Ele tinha acreditado em sua própria fábula.

E isso o havia aniquilado.




CAPГЌTULO SEIS


Gareth dava voltas pelo seu quarto, sua cabeça girava atordoada devido a sua incapacidade de erguer a espada, tentando processar as ramificações. Ele sentia-se entorpecido. Mal podia acreditar que tinha sido tão estúpido para tentar erguer a espada, a Espada da Dinastia, a que nenhum MacGil tinha sido capaz de erguer por sete gerações. Por que ele pensou que seria melhor do que os seus antepassados? Por que ele supôs que com ele tudo seria diferente?

Ele deveria ter imaginado. Ele deveria ter sido cauteloso, jamais deveria ter superestimado a si mesmo. Ele deveria simplesmente ter se contentado com ter o trono de seu pai. Por que ele tinha querido ir mais alГ©m?

Agora todos os seus sГєditos sabiam que ele nГЈo era o Escolhido; agora o seu governo seria marcado por isso; agora, talvez, eles tivessem mais motivos para suspeitar dele pela morte de seu pai. Ele viu que todo mundo jГЎ olhava para ele de forma diferente, como se ele fosse um fantasma andante, como se todos eles jГЎ estivessem se preparando para a chegada do prГіximo rei.

Pior do que isso, pela primeira vez em sua vida, Gareth se sentia inseguro sobre si mesmo. Durante toda a sua vida, ele tinha visto o seu destino de forma clara. Ele tinha certeza de que estava destinado a tomar o lugar de seu pai, de que governaria e de que manejaria a espada. Sua confiança foi abalada ao máximo. Agora, ele não tinha certeza de nada.

O pior de tudo era que ele não conseguia parar de ver a imagem do rosto de seu pai, logo antes de tentar erguer a espada. Teria sido aquela, de fato, sua vingança?

“Bravo.” Disse uma voz lenta, sarcástica.

Gareth virou-se chocado ao perceber que alguГ©m estava com ele em seus aposentos. Ele reconheceu a voz de imediato; era uma voz com a qual ele tinha ficado muito familiarizado com o passar dos anos, uma voz que ele tinha vindo a desprezar. Era a voz de sua esposa:

Helena.

Lá estava ela, em um canto da sala, observando-o enquanto fumava seu cachimbo de ópio. Ela respirou fundo, segurou a respiração e depois exalou lentamente o ar. Seus olhos estavam vermelhos e ele podia ver que ela tinha estado fumando por muito tempo.

“O que está fazendo aqui?” Ele perguntou.

“Afinal de contas, este é meu quarto nupcial.” Ela respondeu. “Eu posso fazer o que eu quiser aqui. Eu sou sua mulher e sua rainha. Não se esqueça. Eu governo este reino, tanto quanto você. E depois de seu desastre hoje, na verdade, eu usaria a palavra governar muito vagamente.”

O rosto de Gareth ficou vermelho de raiva. Helena sempre encontrava a maneira de dar-lhe um tapa com luvas de pelica e no momento mais inoportuno. Ele a desprezava mais do que qualquer mulher em sua vida. Ele mal podia conceber que tinha concordado em se casar com ela.

“É mesmo?” Gareth disse entre dentes, virando-se e marchando em direção a ela, fervendo de raiva. “ Sua ordinária! Você esquece que eu sou o rei e que eu posso mandar prendê-la, como posso prender qualquer outra pessoa do meu reino, seja você minha mulher ou não.”

Ela se burlou dele com fungado sarcГЎstico.

“E daí?” Ela retrucou. “E você daria motivos para que seus novos súditos especulassem sobre sua sexualidade? Não, duvido muito disso. Não no mundo intrigante de Gareth. Não na mente do homem que se preocupa mais do que ninguém com o que as pessoas pensam dele.”

Gareth parou diante dela, percebendo que ela tinha uma maneira de ver através dele que o incomodava até o mais íntimo de seu ser. Ele entendeu a ameaça dela e percebeu que discutir com ela não serviria de nada. Então, ele ficou ali, em silêncio, esperando, com os punhos fechados.

“O que é que você quer?” Ele disse lentamente, tentando controlar-se para não acabar fazendo algo precipitado. “Você não viria a mim se não quisesse alguma coisa.”

Ela riu um riso seco, zombeteiro.

“Eu tomarei qualquer coisa que eu quiser. Eu não vim aqui para pedir-lhe nada. Mas sim, para lhe dizer uma coisa: todo o seu reino acabou de testemunhar seu fracasso ao tentar elevar a espada. Onde isso nos deixa?”

“O que você quer dizer com nos?” Ele perguntou tentando imaginar aonde ela queria chegar.

“Seu povo agora já sabe o que eu sempre soube: que você é um fracasso. Que você não é o Escolhido. Parabéns. Pelo menos agora isso é oficial.”

Ele rebateu.

“Meu pai não pôde empunhar a espada. Isso, efetivamente, não o impediu de governar como rei.”

“Mas afetou o seu reinado.” Ela retrucou. “Cada momento dele.”

“Se você está tão infeliz com minha incapacidade…” Gareth disse irritado. “… Por que você simplesmente não deixa este lugar? Deixe-me! Acabe com a paródia de nosso casamento. Eu sou o Rei agora. Eu não preciso mais de você.”

“Fico feliz que você tenha tocado nesse ponto…” Ela disse. “… Porque essa é precisamente a razão pela qual eu vim aqui. Eu quero que você termine o nosso casamento oficialmente. Eu quero o divórcio. Há um homem que eu amo. Um homem de verdade. De fato, um de seus cavaleiros. Ele é um guerreiro. Nós estamos apaixonados. A diferença de qualquer amor que eu tenha tido, o nosso amor é verdadeiro. Divorcie-se de mim, assim eu poderei deixar de manter esse assunto em segredo. Eu quero que o nosso amor seja público. Eu quero me casar com ele.”

Gareth olhou para ela chocado, sentindo-se vazio por dentro, era como se um punhal tivesse acabado de ser mergulhado em seu peito. Por que Helena tinha de aparecer? Por que ela tinha de aparecer justo naquele momento? Era demais para ele. Ele se sentia como se o mundo estivesse chutando-o enquanto ele estava caГ­do.

Apesar de si mesmo, Gareth ficou surpreso ao perceber que ele tinha alguns sentimentos profundos por Helena, porque quando ele ouviu as palavras sГ©rias dela pedindo-lhe o divГіrcio, ele sentiu algo estranho dentro dele. Isso o perturbou. Apesar de si mesmo, ele percebeu que nГЈo queria divorciar-se dela. Se a ideia tivesse partido dele, seria diferente, mas a ideia veio dela. Ele nГЈo queria que ela conseguisse fazer suas vontades, nГЈo tГЈo facilmente.

Acima de tudo, ele se perguntava como um divórcio iria influenciar o seu reinado. Um rei divorciado levantaria muitas perguntas. E, apesar de si mesmo, ele se encontrou com ciúmes do cavaleiro. Ele estava ressentido com ela por ela ter esfregado na cara dele sua falta de masculinidade. Ele queria vingança. Queria vingar-se dela e de seu amante.

“Você não pode contar com o divórcio.” Ele retrucou. “Você está unida a mim. Atada como minha esposa, para sempre. Eu nunca vou deixar você livre. E se eu encontrar esse cavaleiro com o qual você está me traindo, eu vou mandar torturá-lo e executá-lo.”

Helena rosnou para ele.

“Eu não sou sua esposa! Você não é meu marido. Você não é homem. A nossa é uma união profana. Desde o dia em que foi forjada. Foi uma parceria organizada pelo poder. A coisa toda me repugna, sempre me deu nojo. Isso arruinou minha única chance de realmente estar casada.”

Ela respirava pesadamente, sua fГєria era crescente.

“Você vai me dar o divórcio, ou eu vou revelar para todo o Reino a classe de homem que você é. Você decide.”

Com isso, Helena virou-lhe as costas, marchou pela sala e saiu pela porta aberta, sem nem mesmo se preocupar em fechГЎ-la atrГЎs de si.

Gareth ficou sozinho no quarto de pedra, ouvindo o eco dos passos de Helena e sentiu um intenso calafrio atravessar seu corpo, ele nГЈo podia parar de tremer. Havia ainda alguma coisa estГЎvel a qual ele pudesse apegar-se?

Enquanto Gareth ficou ali, tremendo, olhando a porta aberta, ele se surpreendeu ao ver alguém mais passar por ela. Ele mal teve tempo de processar a conversa com Helena, de analisar todas as suas ameaças, quando entrou um rosto muito familiar: Firth. Seus habituais passos saltitantes mudaram quando ele entrou na sala timidamente, com um olhar de culpa no rosto.

“Gareth?” Ele perguntou, soando inseguro.

Firth olhou para ele com os olhos arregalados e Gareth podia ver que ele realmente se sentia muito mal. Ele devia se sentir mal, Gareth pensou. Afinal de contas, tinha sido Firth quem tinha lhe dado a ideia de empunhar a espada; quem finalmente, o tinha convencido; quem o fez pensar que ele era mais do que realmente era. Sem Firth sussurrando tudo isso em seus ouvidos, quem sabe? Talvez Gareth nem sequer tivesse tentado erguer a espada.

Gareth se virou para ele, fervendo. Em Firth ele finalmente encontrou um objeto ao qual dirigir toda a sua raiva. Afinal, Firth foi quem matou seu pai. Para começar a história, foi Firth, esse garoto estúpido dos estábulos, quem tinha causado toda aquela confusão. Agora ele era só mais um sucessor fracassado da linhagem dos MacGil.

“Eu odeio você.” Gareth enfureceu. “Que tal suas promessas agora? O que me diz de sua confiança em que eu levantaria a espada?”

Firth engoliu saliva, olhando muito nervoso. Ele estava sem palavras. Claramente, ele nГЈo tinha nada a dizer.

“Desculpe-me, meu senhor.” Ele disse. “Eu estava errado.”

“Você estava errado sobre muitas coisas.” Gareth retrucou.

Na verdade, quanto mais Gareth pensava nisso, mais ele percebia quão errado Firth tinha estado. Na verdade, se não fosse por Firth, seu pai ainda estaria vivo e Gareth não estaria no meio daquele caos. O peso do reinado não estaria sobre sua cabeça, todas as coisas não teriam resultado tão mal. Gareth ansiava por dias mais simples, quando ele não era o rei, quando seu pai estava vivo. Ele sentiu um súbito desejo de trazer aquele tempo de volta, sentiu saudades da forma como as coisas costumavam ser. Mas ele não podia. E ele tinha Firth para culpar por tudo isso.

“O que você está fazendo aqui?” Gareth pressionou.

Firth limpou a garganta, obviamente nervoso.

“Eu ouvi rumores… sussurros de servos falando. Ouvi falar que seu irmão e sua irmã estão fazendo perguntas. Eles foram vistos no quarto dos empregados examinando a rampa de resíduos em busca da arma do crime. Ou seja, o punhal que eu usei para matar seu pai.”

O corpo de Gareth ficou gelado com essas palavras. Ele ficou congelado, em estado de choque e medo. SerГЎ que o dia ainda poderia ficar pior?

Ele pigarreou.

“E o que eles descobriram?” Ele perguntou com a garganta seca, as palavras mal saíam de sua boca.

Firth balançou a cabeça.

“Não sei, meu senhor. Tudo o que sei é que eles suspeitam de algo.”

Gareth sentiu um ódio renovado por Firth, um ódio que ele não sabia que era capaz de ter. Se Firth não fosse um trapalhão, se tivesse descartado a arma corretamente, ele não estaria naquela posição. Firth o havia deixado totalmente vulnerável.

“Eu só vou dizer isto uma vez…” Disse Gareth, chegando perto de Firth, aproximando-se de seu rosto e olhando furiosamente para ele com o olhar mais duro que conseguiu dar. “… Eu não quero ver seu rosto novamente. Você me entende? Deixe a minha presença e nunca mais volte aqui. Vou relegar você a uma posição muito longe daqui. E se alguma vez pisar dentro das muralhas do castelo de novo, tenha a certeza de que eu vou mandar arrestá-lo.”

“AGORA VÁ EMBORA!” Gareth gritou com fúria.

Firth virou-se e fugiu do quarto com os olhos cheios de lГЎgrimas, seus passos ecoaram por muito tempo depois que ele desceu pelo corredor.

Os pensamentos de Gareth se voltaram para a espada, para sua tentativa fracassada. Ele nГЈo podia evitar sentir que tinha posto em marcha uma grande calamidade contra si mesmo. Ele sentia como se tivesse acabado de se jogar por um penhasco e que daquele momento em diante, ele sГі estaria enfrentando sua caГ­da.

Ele ficou ali, grudado ao chão de pedra no silêncio do quarto de seu pai, tremendo. Ele se perguntava que classe de situação ele tinha criado. Ele nunca tinha se sentido tão só, tão inseguro.

Era isso o que significava governar?


*

Gareth se apressou pela escada de pedra em forma de espiral, percorrendo andar após andar, para chegar até o seu caminho no parapeito das muralhas mais altas do castelo. Ele precisava de ar fresco. Ele precisava de tempo e espaço para pensar. Ele precisava de uma vista apreciável do seu reino, de uma chance de ver a sua corte, o seu povo e de lembrar que tudo aquilo era seu. Ele precisava lembrar que apesar do pesadelo que tinham sido os eventos do dia, depois de tudo, ele ainda era rei.

Gareth tinha dispensado seus assistentes e corria sozinho, lance após lance respirando com dificuldade. Ele parou em um dos andares, inclinou-se e prendeu a respiração. Lágrimas escorriam pelo seu rosto. Ele continuava vendo o rosto de seu pai, repreendendo-o em cada volta.

“Eu odeio você!” Ele gritou para o vazio.

Ele podia jurar que ele tinha ouvido um riso zombeteiro de volta. O riso de seu pai.

Gareth precisava ir embora dali. Ele virou-se e continuou correndo, correndo, atГ© que finalmente chegou ao topo. Ele entrou pela porta e o ar fresco do verГЈo golpeou seu rosto.

Ele respirou fundo recuperando o fГґlego, deleitando-se com a luz do sol, com a brisa quente. Ele tirou o manto, o manto de seu pai e jogou-o no chГЈo. Estava quente demais e ele jГЎ nГЈo queria mais usГЎ-lo.

Ele correu para a beira do parapeito e agarrou-se ao muro de pedra, respirando com dificuldade, olhando para baixo para sua corte. Ele podia ver a multidão interminável deixando o castelo. Eles estavam saindo da cerimônia. Sua cerimônia. Ele quase podia sentir sua decepção dali onde estava. Eles pareciam tão pequenos. Ele se maravilhou com o fato de que todos eles estavam sob seu controle.

Mas por quanto tempo?

“Reinados são coisas curiosas.” Disse uma voz antiga.

Gareth virou-se e viu, para sua surpresa, Argon ali a metros de distГўncia usando um manto branco com capuz e segurando seu bastГЈo. Argon olhava para ele com um sorriso no canto dos lГЎbios, mas seus olhos nГЈo estavam sorrindo. Eles estavam brilhando, olhando atravГ©s dele e eles deixavam Gareth nervoso. Eles viam demais.

Havia tantas coisas que Gareth tinha desejado dizer a Argon, que tinha desejado perguntar-lhe. Mas agora que ele jГЎ havia falhado em empunhar a espada, ele nГЈo conseguia se lembrar de uma Гєnica delas.

“Por que você não me contou?” Gareth suplicou com desespero em sua voz. “Você poderia ter me dito que eu não estava destinado a erguê-la. Você poderia ter me poupado dessa vergonha.”

“E por que eu faria isso?” Argon perguntou.

Gareth fez uma careta.

“Você não é um verdadeiro conselheiro do Rei.” Disse ele. “Você teria aconselhado meu pai lealmente. Mas não me aconselhou.”

“Talvez ele fosse merecedor de um conselheiro leal.” Argon replicou.

A fГєria de Gareth aprofundou-se. Ele odiava aquele homem. E o culpava de tudo.

“Eu não quero você perto de mim. “Disse Gareth. “Não sei por que meu pai nomeou você, mas não quero você na corte do rei.”

Argon riu, era uma risada oca, apavorante.

“Seu pai não me nomeou, rapaz tolo.” Ele disse. “Nem o pai dele. Eu estava destinado a estar aqui. Na verdade, você pode dizer que eu os nomeei.”

Argon de repente deu um passo Г  frente e parecia que ele estava olhando para alma de Gareth.

“Será que eu poderia dizer o mesmo de você?” Argon perguntou. “Será que você está destinado a estar aqui?”

Suas palavras tocaram um nervo em Gareth, ele sentiu um calafrio percorrer seu corpo. Era o que Gareth tinha estado perguntando a si mesmo. Gareth se perguntava se elas eram uma ameaça.

“Aquele que reinar por sangue vai governar com sangue.” Argon proclamou e com essas palavras, ele rapidamente virou as costas e começou a se afastar.

“Espere!” Gareth gritou, não querendo mais que ele fosse embora, ele precisava de respostas. “O que quer dizer com isso?”

Gareth nГЈo podia evitar sentir que Argon estava dando-lhe uma mensagem: que ele nГЈo iria governar por muito tempo. Ele precisava saber se era isso que ele queria dizer.

Gareth correu atrГЎs dele, mas quando ele se aproximou, Argon desapareceu bem diante de seus olhos.

Gareth virou-se, olhou ao seu redor, mas nГЈo viu nada. Ele ouviu apenas um riso oco, em algum lugar no ar.

“Argon!” Gareth gritava.

Ele virou-se novamente, em seguida, olhou para os céus, apoiou-se em um joelho, jogou a cabeça para trás e deu um grito estridente:

“ARGON!”




CAPГЌTULO SETE


Erec marchava ao lado do Duque, de Brandt e de dezenas de homens da comitiva do Duque, pelas ruas sinuosas de Savária. À medida que eles prosseguiam a multidão crescia. Eles iam em direção à casa da jovem serva. Erec havia insistido em encontrá-la sem demora e o duque queria mostrar-lhe o caminho pessoalmente. E por onde o Duque passava, todos o seguiam. Erec olhava para a enorme e crescente comitiva e estava envergonhado, ele percebeu que chegaria à casa da moça com dezenas de pessoas a reboque.

Desde a primeira vez que ele a viu, Erec não foi capaz de pensar em mais nada. Ele se perguntava: quem era aquela garota que parecia tão nobre e ainda assim trabalhava como serva na corte do Duque? Por que ela fugiu dele tão apressadamente? Por que, em todos esses anos, de todas as mulheres nobres que ele conhecera, ela era a única que tinha capturado seu coração?

O fato de ter estado próximo da realeza toda a sua vida, perto do próprio filho do rei, deu a Erec a capacidade de detectar alguém da realeza em um instante. Por isso, nem bem ele viu a jovem, ele percebeu que ela era de uma posição muito mais nobre do que aquela que estava ocupando. Ele estava ardendo de curiosidade para saber quem ela era; de onde era; o que ela estava fazendo ali. Ele precisava de mais uma oportunidade para pôr seus olhos sobre ela para ver se ele estava imaginando tudo aquilo ou se seus sentimentos ainda eram os mesmos.

“Meus servos me disseram que ela vive na periferia da cidade. Explicou o Duque, conversando enquanto caminhavam. Enquanto eles prosseguiam, as pessoas de todos os lados das ruas abriam suas janelas e olhavam, estavam surpresas com a presença do Duque e de sua comitiva ali naquelas ruas tão humildes.

“Aparentemente, ela é uma das criadas do dono de uma hospedaria. Ninguém sabe sua origem, de onde ela veio. Tudo o sabem é que um dia ela chegou a nossa cidade e foi contratada para trabalhar nessa hospedaria. Seu passado, pelo que parece, é um mistério.”

Todos dobraram por outra rua, o calçamento debaixo dos seus pés era cada vez mais esburacado. À medida que eles avançavam, podiam notar que as casas eram menores, estavam muito mais próximas umas das outras e estavam mais dilapidadas. O Duque pigarreou.

“Eu a empreguei como serva em minha corte durante ocasiões especiais. Ela é calma e reservada. Ninguém sabe muito sobre ela. Erec…” O Duque disse finalmente, voltando-se para Erec e colocando a mão em seu pulso. “… Você está seguro disso? Essa mulher, seja ela quem for, é apenas mais uma plebeia. Você pode ter qualquer mulher no reino a sua escolha.”

Erec olhou para ele com igual intensidade.

“Eu preciso rever essa jovem. Não importa quem ela é.”

O Duque balançou a cabeça em sinal de desaprovação e todos eles continuaram andando, seguindo rua após rua, passando por vielas estreitas. Enquanto eles seguiam, a vizinhança de Savária tornava-se ainda mais decrépita, as ruas estavam cheias de bêbados, havia sujeira por todos os lados, galinhas e cães vira-latas perambulavam por ali. Passaram por uma taverna após outra, os gritos dos clientes enchiam as ruas. Vários bêbados tropeçaram diante deles e quando a noite começou a cair, as tochas começaram a iluminar as ruas.

“Abram alas para o Duque.” Gritou seu assistente principal, correndo pela frente e empurrando os bêbados para fora do caminho. De uma ponta a outra da rua indivíduos repugnantes se afastavam e observavam espantados enquanto o Duque passava. Erec seguia ao lado dele.

Finalmente, chegaram a uma pequena e humilde pousada, feita de taipa e com um telhado de duas ГЎguas. A pousada tinha uma taverna no andar de baixo com capacidade para talvez cinquenta clientes e no andar de cima havia alguns quartos para os hГіspedes. A porta da frente estava torta; uma janela estava quebrada e a lГўmpada da entrada estava pendurada precariamente; a luz da sua tocha bruxuleava jГЎ que a cera estava quase acabando. Os gritos dos bГЄbados se propagavam janelas afora, quando o Duque e sua comitiva pararam diante da porta.

Como podia uma jovem tão fina trabalhar em um lugar como aquele? Erec se perguntava horrorizado enquanto ouvia os gritos e vaias que vinham do interior. Seu coração se partiu quando ele pensou nisso, quando ele pensou na humilhação que ela deveria sofrer em um lugar assim. Não é justo, ele pensou. Ele sentia-se determinado a resgatá-la daquela miséria.

“Por que veio ao pior lugar possível para escolher uma noiva?” O Duque perguntou virando-se para Erec.

Brandt virou-se para ele tambГ©m.

“Você ainda tem uma última chance, meu amigo.” Disse Brandt. “Há um castelo cheio de mulheres reais esperando por você lá.”

Mas Erec abanou a cabeça, determinado.

“Abra a porta.” Ele ordenou.

Um dos homens do Duque adiantou-se, puxou o trinco da porta e abriu-a. O cheiro de bebida rançosa saiu em ondas, fazendo-o recuar.

No interior, os homens já bêbados estavam debruçados sobre o bar, sentados junto a mesas de madeira, gritando muito alto, rindo, zombando e empurrando uns aos outros. Eram tipos brutos, Erec podia ver isso só com um olhar. Eles tinham barrigas muito grandes, eram barbudos e suas roupas estavam sujas. Nenhum deles era um guerreiro.

Erec deu vГЎrios passos pela taverna procurando pela jovem. Ele nГЈo podia imaginar que uma mulher como ela pudesse trabalhar em um lugar assim. Ele se perguntou se eles nГЈo teriam vindo para a hospedaria errada.

“Desculpe-me senhor, eu estou à procura de uma mulher.” Erec disse para o homem de pé ao lado dele, o homem era alto e corpulento tinha uma barriga grande e a barba por fazer.

“Ah é?” O homem gritou, zombando. “Bem, você veio ao lugar errado! Isto aqui não é um bordel. No entanto, há um do outro lado da rua – e eu ouvi dizer que as mulheres lá são bonitas e roliças!”

O homem começou a rir muito alto na cara de Erec e vários dos seus companheiros se juntaram a ele.

“Não é um bordel o que estou procurando.” Erec respondeu sério. “Mas apenas uma mulher, uma que trabalha aqui.”

“Então você deve estar se referindo à criada do taverneiro.” Gritou alguém, talvez outro homenzarrão bêbado. “Ela deve estar lá atrás em algum lugar, limpando o chão. Que pena! – eu queria que ela estivesse aqui, no meu colo!”

Os homens caíram todos na gargalhada, morrendo de rir com suas próprias piadas e Erec ficou vermelho de raiva ao pensar nas palavras do bêbado. Ele sentiu-se triste por ela. Por ela ter de servir todos aqueles indivíduos , a humilhação era demais para que ele pudesse contemplar.

“E quem é você?” Perguntou outra voz.

Um homem deu um passo adiante, ele era mais largo que os outros; sua barba e seus olhos eram escuros; tinha uma carranca profunda, queixo largo e estava acompanhado por vários homens de aspecto decadente. Ele era bastante musculoso. Ele se aproximou de Erec de uma maneira ameaçadora e claramente territorial.

“Você está tentando roubar minha criada?” Ele perguntou ameaçador. “Fora daqui!”

Ele se adiantou e estendeu a mГЈo para agarrar Erec.

Mas Erec, já calejado por anos de treinamento e sendo o melhor cavaleiro do Reino, tinha reflexos muito além o que aquele homem poderia imaginar. Assim que o homem pôs suas mãos em Erec, ele entrou em ação, agarrou o pulso do homem o fez girar sobre si mesmo e com a velocidade de um raio, agarrou-o pela parte de trás da camisa e jogou-o do lado da sala.

O brutamontes saiu voando como uma bala de canhГЈo e com ele arrastou vГЎrios homens, todos eles caГ­ram no chГЈo daquele pequeno lugar como se fossem pinos de boliche.

A sala inteira ficou em silГЄncio, quando todos os homens pararam para assistir.

“LUTA! LUTA!” Os homens gritavam em coro.

O estalajadeiro, atordoado, cambaleou e investiu contra Erec, dando um grito estridente.

Desta vez Erec não esperou. Ele rapidamente deu um passo à frente para encontrar seu agressor, levantou o braço e deu uma cotovelada no rosto do homem, quebrando seu nariz.

O dono da hospedaria cambaleou para trГЎs, em seguida, arriou caindo de costas no chГЈo.

Erec avançou, agarrou o homem e apesar de seu tamanho, o levantou bem alto por cima de sua cabeça. Ele deu vários passos e lançou o homem pelos ares, ele saiu voando e levando a metade da sala com ele.

Todos os homens na sala congelaram, pararam de gritar e ficaram em silêncio, começando a perceber que alguém especial estava entre eles. Porém, de repente, o taverneiro veio correndo com uma garrafa de vidro erguida sobre sua cabeça, ele apontava diretamente para Erec.

Erec tinha previsto isso e jГЎ tinha a mГЈo em sua espada, mas antes que pudesse desembainhГЎ-la, seu amigo Brandt deu um passo adiante, colocou-se ao lado dele, tirou uma adaga do cinto e apontou com ela para garganta do taverneiro.

O taverneiro correu direto para ele e parou frio, a lГўmina estava prestes a perfurar sua pele. Ele ficou ali, com os olhos arregalados de medo, suando, paralisado com a garrafa no ar. A sala ficou em silГЄncio num impasse em que se poderia ouvir um alfinete cair.

“Solte-a.” Brandt ordenou.

O taverneiro soltou a garrafa e ela se espatifou no chГЈo.

Erec desembainhou a espada com um ruГ­do metГЎlico retumbante e caminhou atГ© o estalajadeiro, que estava gemendo no chГЈo e apontou para a garganta dele.

“Só vou dizer isto uma vez,” Erec falou. “Limpe esta sala de toda essa ralé. Agora. Eu exijo ter uma conversação com a dama. Sozinho.”

“O Duque!” Alguém gritou.

A sala inteira virou-se e finalmente reconheceu o Duque que estava parado ali, na entrada, ladeado por seus homens. Todos eles correram para tirar seus gorros e curvar suas cabeças.

“Se a sala não estiver desocupada até eu terminar de falar…” O Duque exclamou: “… Cada um de vocês aqui será aprisionado de uma vez.”

A sala rompeu em um frenesi, todos os homens se apressaram para desocupГЎ-la. Eles passaram correndo pelo Duque e saГ­ram pela porta da frente, deixando suas garrafas de cerveja pela metade no lugar onde haviam estado bebendo.

“E fora daqui você também.” Disse Brandt para o taverneiro, baixando a adaga, agarrando-o pelos cabelos e empurrando-o portas afora.

A sala, que momentos antes tinha estado tГЈo turbulenta, agora estava quase vazia, silenciosa, ficaram ali unicamente Erec, Brandt, o Duque e uma dГєzia de seus homens mais prГіximos. Eles fecharam a porta atrГЎs de si com um estrondo retumbante.

Erec virou-se para o estalajadeiro que estava sentado no chГЈo, ainda atordoado, limpando o sangue de seu nariz. Erec o agarrou pela camisa, ergueu-o com ambas as mГЈos e o fez sentar-se em um dos bancos vazios.

“Você arruinou a féria da noite.”Lamentou-se o estalajadeiro. “Você vai pagar por isso.”

O Duque deu um passo Г  frente e o esbofeteou.

“Eu poderia mandar matá-lo por tentar colocar uma mão sobre este homem.” Disse o Duque repreendendo-o. “Você não sabe quem é este homem? Este é Erec, o melhor cavaleiro do rei, o campeão do Exército Prata. Se ele quiser, poderá matá-lo aqui, agora mesmo.”

O estalajadeiro olhou para Erec e pela primeira vez, um medo real atravessou seu rosto. Ele estava quase tremendo em seu assento.

“Eu não tinha ideia. Você não se anunciou.”

“Onde está ela?” Erec exigiu impaciente.

“Ela está na parte de trás, esfregando a cozinha. O que é que você quer com ela? Ela roubou algo seu? Ela é só mais uma criada.”

Erec puxou seu punhal e apertou-o contra o pescoço do homem.

“Se você a chamar de criada de novo…” Erec advertiu. “… Poderá estar certo de que eu cortarei sua garganta. Está me entendendo? “ Erec perguntou firmemente enquanto ele segurava a lâmina contra a pele do homem.

Os olhos do homem se encheram de lГЎgrimas, enquanto ele assentia lentamente.

“Traga-a até aqui e depressa!” Erec ordenou e puxou-o para que se levantasse, logo lhe deu um empurrão enviando-o para o outro lado da sala em direção à porta traseira.

Quando o estalajadeiro se foi, ouviu-se o barulho de panelas detrГЎs da porta e gritos abafados, entГЈo, momentos depois a porta foi aberta e por ela saГ­ram vГЎrias mulheres vestidas com blusas e gorros esfarrapados, cobertos de gordura. Havia trГЄs mulheres mais velhas, na faixa dos sessenta e Erec se perguntou por um momento se o estalajadeiro sabia de quem ele estava falando.

E então ela surgiu – o coração de Erec parou em seu peito.

Ele mal conseguia respirar. Era ela.

Ela usava um avental, coberto de manchas de gordura e mantinha a cabeça baixa com vergonha de olhar para cima. Seu cabelo estava amarrado, coberto por um pano, suas bochechas estavam cobertas de fuligem e, ainda assim, Erec ficou prendado por ela. Sua pele era tão jovem, tão perfeita. Seus pômulos e seu maxilar eram bem esculpidos, seu nariz era pequeno e coberto de sardas, seus lábios eram cheios. Ela tinha uma testa régia, larga e seu lindo cabelo loiro se desparramava por debaixo de sua touca.

Ela olhou para ele apenas por um momento e seus grandes e maravilhosos olhos verdes amendoados fizeram com que Erec ficasse imГіvel, grudado ao chГЈo. Os olhos dela mudaram de cor com a luz, ficaram azuis como o cristal para, em seguida, voltar Г  cor verde. Erec ficou surpreso ao perceber que estava ainda mais hipnotizado por ela naquele momento, do que havia estado quando ele a conhecera.

Atrás dela, saiu o estalajadeiro, carrancudo, ainda limpando o sangue de seu nariz. A garota avançou timidamente, cercada pelas outras mulheres mais velhas, em direção a Erec e fez uma reverência quando se aproximou dele. Erec ficou de pé diante dela junto com vários homens da comitiva do Duque.

“Meu senhor.” Ela disse com sua voz suave, doce, enchendo o coração de Erec. “Por favor, diga-me o que fiz para ofendê-lo. Não sei o que foi, mas sinto muito por tudo o que tenho feito para justificar a presença da corte do Duque.”

Erec sorriu. As palavras dela, sua linguagem, o som da sua voz – tudo o fez sentir-se renovado. Ele desejou que ela nunca parasse de falar.

Erec estendeu a mão e com ela tocou-lhe o queixo, levantando-o até que seus olhos suaves encontraram os dele. Seu coração disparou quando ele olhou nos olhos dela. Era como se perder em um mar de azul.

“Minha senhora, a senhora não fez nada para ofender-me. Eu não creio que a senhora seja capaz de ofender. Venho aqui não por causa de ofensas, mas por causa do amor. Desde que a vi, não fui capaz de pensar em mais nada.”

A garota parecia confusa e imediatamente baixou os olhos para o chГЈo, piscando vГЎrias vezes. Ela torcia as mГЈos, parecendo nervosa, atordoada. Era Гіbvio que ela nГЈo estava habituada a isso.

“Por favor, minha senhora, diga-me. Qual é o seu nome?”

“Alistair.” Ela respondeu, humildemente.

“Alistair.” Erec repetia embelezado. Era o nome mais lindo que ele já tinha ouvido.

“Mas eu não sei de que lhe serviria saber o meu nome.” Acrescentou ela em voz baixa, ainda olhando para o chão. “O senhor é um Lorde e eu sou apenas uma criada.”

“Ela é minha criada, para ser exato.” Disse o estalajadeiro dando um passo à frente com ar arrogante. “Ela é dependente de mim. Ela assinou um contrato há alguns anos. Sete anos foi o que ela prometeu. Em troca, eu lhe dou casa e comida. Ela já leva três anos aqui. Então, como pode ver, você está perdendo o tempo. Ela é minha. Minha propriedade. Você não poderá levá-la. Ela é minha. Você entende?”

Erec sentiu um ódio pelo estalajadeiro superior a qualquer ódio que ele pudesse ter sentido por outro homem. Ele estava a ponto de desembainhar sua espada e com ela perfurar o coração daquele homem e acabar com ele. No entanto, por mais que aquele homem perverso merecesse, Erec não queria violar a lei do rei. Afinal, suas ações refletiam sobre o rei.

“A lei do Rei é a lei do Rei.” Erec disse para o homem, com firmeza. “Eu não pretendo violá-la. Dito isso, amanhã começam os torneios e eu tenho o direito, como qualquer homem, a escolher a minha noiva. Saibam todos os aqui presentes que eu escolho Alistair.”

Um suspiro espalhou-se pelo quarto quando todos se viraram uns para os outros, completamente chocados.

“Isto é…” Erec acrescentou. “… Se ela aceitar.”

Erec olhou para Alistair, seu coração batia descompassado enquanto ela continuava com o rosto baixo olhando para o chão. Ele podia ver que ela estava corando.

“A senhora aceita?” Ele perguntou.

O silГЄncio apoderou-se da sala.

“Meu Senhor…” Ela disse baixinho. ”… O senhor não sabe nada sobre quem eu sou, de onde eu sou, por que eu estou aqui. E eu receio que eu não possa contar-lhe nada sobre essas coisas.”

Erec olhou para ela intrigado.

“Por que não pode me contar?”

“Eu nunca contei a ninguém desde a minha chegada. Eu fiz uma promessa.”

“Mas por quê?” Ele pressionou muito curioso.

Mas Alistair simplesmente manteve seu rosto baixo e ficou em silГЄncio.

“É verdade.” Uma das mulheres se intrometeu dizendo:

– Esta mulher nunca nos disse quem ela é, ou por que ela está aqui. Ela não quer. Já tentamos por anos.

Erec estava profundamente intrigado com ela, mas isso sГі aumentava seu mistГ©rio.

“Se eu não posso saber quem a senhora é, então não vou insistir.” Erec disse. “Eu respeito sua promessa. Mas isso não vai mudar o meu afeto pela senhora. Minha senhora, quem quer que seja, se eu ganhar estes torneios, então eu a escolherei como meu prêmio. Escolherei a senhora, entre todas as mulheres de todo o Reino. Pergunto mais uma vez: A senhora aceita?”

Alistair manteve seus olhos fixos no chГЈo e enquanto Erec a observava, ele via as lГЎgrimas rolando pelo rosto dela.

De repente, ela se virou e fugiu da sala correndo, fechando com força a porta atrás de si.

Erec ficou ali com os outros, no silГЄncio atordoante. Ele mal sabia como interpretar a resposta dela.

“Então, como você viu, você perdeu seu tempo e o meu.” Disse o estalajadeiro. “Ela disse que não. Então, caia fora.”

Erec franziu a testa.

“Ela não disse que não.” Brandt interrompeu. “Ela apenas não respondeu.”

“Ela tem o direito de tomar o seu tempo.” Erec disse em defesa dela. “Afinal, é muita coisa para considerar. Ela também não me conhece.”

Erec ficou ali, debatendo sobre o que fazer.

“Vou ficar aqui esta noite.” Erec finalmente anunciou. “Você vai me dar um quarto aqui, no corredor perto dela. Pela manhã, antes de começarem os torneios, eu vou perguntar para ela novamente. Se ela aceitar e se eu ganhar, ela será minha noiva. Se assim for, eu vou comprar o contrato de servidão dela de você e ela abandonará este lugar comigo.”

O dono da hospedaria claramente nГЈo queria Erec sob seu teto, mas nГЈo se atreveu a dizer nada. EntГЈo ele se virou e saiu da sala, batendo a porta atrГЎs de si.

“Tem certeza de que deseja ficar aqui?” O Duque perguntou. “Volte para o castelo com a gente.”

Erec assentiu com a cabeça, sério.

“Eu nunca tive tanta certeza de algo em minha vida.”




CAPГЌTULO OITO


Thor saltou através do ar e mergulhou, caindo de cabeça nas águas agitadas do Mar de Fogo.

Ele penetrou na ГЎgua e afundou permanecendo submerso. Ele se surpreendeu ao sentir que a ГЎgua estava quente.

Abaixo da superfície, Thor abriu os olhos brevemente e logo se arrependeu de ter feito isso. Ele deu uma olhada e viu todo tipo de criaturas marinhas estranhas, pequenas e grandes, com suas caras feias, grotescas e incomuns. O oceano estava infestado delas. Thor rezou para que elas não o atacassem antes que ele pudesse alcançar a segurança do barco.

Thor veio Г  tona com uma arfada, ele procurou imediatamente o menino que estava se afogando. Conseguiu vГЄ-lo bem a tempo: o garoto estava debatendo-se e afundando, mais alguns segundos e ele certamente teria se afogado.

Thor se aproximou, agarrou o jovem passando um braço ao redor de sua clavícula e começou a nadar com ele, tratando de manter a cabeça dos dois acima da água. Thor ouviu um gemido, um ganido e quando se virou ficou admirado ao ver Krohn: ele devia ter pulado na água em sua ajuda. O leopardo nadava ao lado dele e gania enquanto tentava aproximar-se de Thor movendo suas patas para dar impulso. Thor sentia-se mal por ver Krohn assim, em perigo, mas suas mãos já estavam ocupadas e havia pouco que ele pudesse fazer.

Thor tentou não olhar para as águas vermelhas e agitadas ao seu redor, ele não queria ver as criaturas estranhas surgindo e desaparecendo ao redor dele. Uma criatura feia, roxa, com quatro braços e duas cabeças, surgiu nas proximidades e silvou para ele, logo depois ela submergiu, fazendo Thor estremecer.

Thor se virou e viu barco a remo a cerca de vinte metros de distância. Ele nadou freneticamente até o barco, usando seu braço livre e as pernas, enquanto arrastava o garoto. O jovem se debatia e gritava, resistindo e Thor tinha medo de poder afundar junto com ele.

“Fique quieto!” Thor gritou duramente, esperando que o menino escutasse.

Finalmente, ele se acalmou. Thor estava momentaneamente aliviado – até que ele ouviu um estrondo e virou a cabeça para o outro lado: bem ao lado dele, outra criatura veio à tona, ela era pequena tinha uma cabeça amarela e quatro tentáculos. Sua cabeça era quadrada e ela nadava até ele, rosnando e sacudindo-se. Se a cabeça da criatura não fosse quadrada ela pareceria uma serpente marinha. Thor precaveu-se já que a criatura se aproximava cada vez mais, ele preparou-se para ser mordido, mas, de repente, a criatura abriu sua enorme boca e cuspiu água do mar para ele. Thor piscou, tentando eliminá-la de seus olhos.

A criatura nadava em círculos ao redor dele e Thor redobrou seus esforços, nadando mais rápido, tentando fugir.

Thor estava fazendo progressos e já se aproximava do barco, quando de repente, surgiu outra criatura do outro lado dele. Ela era longa, estreita e alaranjada, tinha duas pinças próximas da boca e dezenas de pequenas pernas. Ela também tinha uma longa cauda, que chicoteava a água em todas as direções. Parecia uma lagosta de pé. Ela ficou rodeando Thor, dando voltas como um besouro d'água, logo se encaminhou para bem perto de Thor, voltando-se para o lado e chicoteando sua cauda. A cauda chicoteou o braço de Thor e ele gritou de dor com a picada.

A criatura passava por ele zunindo em todas as direções e chicoteava uma e outra vez. Thor desejou que ele pudesse desembainhar a espada e atacá-la, mas ele só tinha uma mão livre e ele precisava nadar.

Krohn que estava nadando ao lado de Thor, virou-se e rosnou para a criatura, foi um barulho de arrepiar os cabelos. Krohn nadou destemidamente atГ© o animal, assustando-o e fazendo-o desaparecer sob as ГЎguas. Thor suspirou de alГ­vio, entГЈo, de repente a criatura reapareceu do outro lado e atacou-o novamente. Krohn deu a volta e perseguiu-a por toda a parte, tentando pegГЎ-la, ele tratava de mordГЄ-la, mas sempre falhava.

Thor nadava por sua vida, percebendo que a única maneira sair daquela confusão era sair daquele mar. Depois do que pareceu uma eternidade e de nadar com a maior dificuldade, ele conseguiu chegar perto do barco, o qual balançava violentamente com as ondas. Enquanto Thor se aproximava, dois membros da Legião estavam esperando ali para ajudá-lo. Eles eram mais velhos e nunca tinham falado com Thor e seus colegas antes. Para seu crédito, eles se inclinaram e estenderam-lhe uma mão.

Thor ajudou o garoto primeiro, rodeando-o com os braços e levantando-o em direção ao barco. Os rapazes mais velhos agarraram o garoto pelos braços e o puxaram para dentro.

Thor em seguida aproximou-se de Krohn agarrou-o pela barriga e jogou-o para dentro do barco. Krohn aterrissou sobre as quatro patas, deslizou pelo fundo molhado do barco, escorregando e arranhando a madeira, a ГЎgua escorria de sua pele e ele tremia. Em seguida, ele afirmou-se, virou- se e correu de volta para a borda, Г  procura de Thor. Ele ficou ali olhando para a ГЎgua e ganindo.

Thor agarrou a mão estendida de um dos rapazes, ele já estava sendo puxado para o barco quando de repente sentiu algo forte e musculoso enroscando-se em seu tornozelo e em sua coxa. Ele virou-se e olhou para baixo, seu coração gelou quando ele viu uma criatura verde-limão, parecida com uma lula, enrolando um tentáculo em torno de sua perna.

Thor gritou de dor quando sentiu seus ferrГµes perfurando sua carne.

Thor percebeu que se ele nГЈo fizesse algo rГЎpido, logo estaria liquidado. Com a mГЈo livre ele tirou do seu cinto uma adaga curta, inclinou-se e tratou de cortar o tentГЎculo. Mas ele era tГЈo grosso, o punhal nГЈo podia nem sequer perfurГЎ-lo.

Isso o enfureceu. A cabeça verde da criatura de repente veio à tona, ela não tinha olhos, possuía duas mandíbulas em seu pescoço longo, uma sobre a outra, ela abriu as suas fileiras de dentes afiados e se inclinou em direção a Thor. Thor sentia o sangue parando de circular em sua perna e sabia que tinha de agir rápido. Apesar dos esforços dos rapazes mais velhos para segurá-lo, a mão de Thor estava escorregando e ele estava afundando de volta na água.

Krohn gania e gania, o pelo de suas costas estava eriçado, ele se inclinou como se estivesse se preparando para dar o bote na água. Mas até mesmo Krohn sabia muito bem que seria inútil atacar aquela coisa monstruosa.

Um dos rapazes mais velhos se adiantou e gritou:

“ABAIXE-SE!”

Thor baixou a cabeça quando o rapaz atirou uma lança. Ela zumbiu pelo ar, mas não acertou o alvo, simplesmente voou inofensivamente e afundou na água. A criatura era muito magra, e rápida demais.

De repente, Krohn pulou para fora do barco, de volta para a água, caindo com suas mandíbulas abertas e os seus dentes afiados sobre a parte de trás do pescoço da criatura. Krohn sujeitava a criatura com suas mandíbulas balançando-a para a esquerda e para a direita, não a deixando escapar.

Mas era uma batalha perdida: a pele da criatura era muito grossa e ela era puro mГєsculo. A criatura sacudia Krohn para todos os lados e finalmente o jogou na ГЎgua. Enquanto isso, o tentГЎculo da criatura apertava cada vez mais a perna de Thor, era como um vГ­cio. Thor estava ficando sem oxigГЄnio. Os tentГЎculos queimavam terrivelmente, Thor sentia que sua perna estava prestes a ser arrancada de seu corpo.

Em uma Гєltima tentativa desesperada, Thor soltou a mГЈo do rapaz e com o mesmo movimento se virou e tentou pegar a espada curta que estava em seu cinto.

Mas ele nГЈo pГґde agarrГЎ-la a tempo. Ele escorregou, girou e caiu de cara na ГЎgua.

Thor sentiu-se arrastado para mais longe do barco, a criatura puxava-o para o mar. Ele estava sendo arrastado para trГЎs cada vez mais rГЎpido e quando ele estendeu a mГЈo sem poder fazer nada, ele viu o barco a remo desaparecer diante dele. A prГіxima coisa que ele sentiu foi que estava sendo puxado para baixo, bem abaixo da superfГ­cie da ГЎgua, puxado para o fundo, para as profundezas do Mar de Fogo.




CAPГЌTULO NOVE


Gwendolyn corria pelo campo aberto, seu pai, o rei MacGil, estava ao lado dela. Ela era jovem, talvez tivesse dez anos e seu pai era muito mais jovem tambГ©m. A barba dele era curta, nГЈo tinha os fios grisalhos que teria mais tarde na vida. Sua pele estava livre de rugas, era jovem, brilhante. Ele estava feliz, despreocupado e ria relaxado enquanto segurava a mГЈo de Gwen e corria com ela atravГ©s dos campos. Era assim que ela recordava seu pai. Aquele era o pai que ela havia conhecido.

Ele levantou-a, colocou-a sobre os ombros e a girava vez após vez, rindo cada vez mais alto e ela ria histericamente. Ela sentia-se tão segura em seus braços, ela queria que aquele tempo que passavam juntos nunca acabasse.

Mas quando seu pai a colocou no chГЈo, algo estranho aconteceu. De repente, o dia passou de uma tarde ensolarada para o crepГєsculo. Quando os pГ©s de Gwen tocaram o chГЈo, eles jГЎ nГЈo estavam nas flores do prado, mas presos na lama atГ© os tornozelos. Seu pai agora estava deitado de costas na lama, a poucos metros de distГўncia dela. Ele estava ficando velho, muito velho, velho demais e ele estava preso na lama. Um pouco mais longe, tambГ©m jogada na lama, sua coroa ainda brilhava.

“Gwendolyn.” Ele dizia sufocado. “Minha filha. Ajude-me.”

Ele levantou uma mГЈo para fora da lama e a estendeu para ela, desesperado.

Ela foi invadida pela urgГЄncia de ajudГЎ-lo e tentou ir ter com ele para pegar sua mГЈo. Mas seus pГ©s nГЈo se moviam. Ela olhou para baixo e viu a lama endurecendo ao redor dela, secando, rachando. Ela se mexia e se contorcia, tentando se libertar.

Gwen piscou os olhos e viu-se de pé sobre o parapeito do castelo, olhando para baixo na Corte do Rei. Alguma coisa estava errada: quando ela olhou para baixo, não viu o esplendor habitual e as festividades, mas sim um cemitério alastrando-se. No lugar onde uma vez esteve o esplendor luminoso da Corte do Rei, havia agora sepulturas novas até onde a vista alcançava.

Ela ouviu um ruído de pés que se arrastavam e seu coração parou quando ela se virou para ver um assassino, vestindo uma capa preta e capuz. Ele aproximou-se dela. Ele correu para ela, puxou o capuz para trás, revelando um rosto grotesco no qual estava faltando um olho. No lugar dele havia uma horrenda cicatriz contornando a bacia orbital. O assassino rosnou, ergueu a mão e levantou um punhal reluzente, seu punho era vermelho brilhante.

Ele estava se movendo muito rápido e ela não conseguiu reagir a tempo. Ela se preparou, sabendo que estava prestes a ser morta quando o homem baixou o punhal com toda a força.

O assassino parou de repente, a poucos centГ­metros de seu rosto e ela abriu os olhos para ver seu pai ali, com um aspecto cadavГ©rico, agarrando o pulso do homem no ar. Ele apertou a mГЈo do homem atГ© que ele deixou cair o punhal, em seguida, ergueu o homem sobre seus ombros e jogou-o pelo parapeito. Gwen ouvia seus gritos enquanto ele despencava pela borda.

Seu pai se virou e olhou para ela, ele agarrou os ombros dela firmemente com suas mãos em decomposição e tinha uma expressão severa.

“Este não é um lugar seguro para você.” Ele advertiu. “Não é seguro!” Ele gritou; suas mãos apertavam firmemente os ombros dela, seus dedos cravaram em seus ombros com a força do seu aperto, fazendo Gwen chorar.

Gwen acordou gritando. Ela sentou-se na cama, olhando ao redor de seu quarto, esperando um atacante.

Mas ela não encontrou mais que silêncio – o denso e tranquilo silêncio que precede o amanhecer.

Gwen estava suando e respirava com dificuldade quando pulou da cama e passeou por seu quarto, vestida com sua camisola rendada. Ela correu para uma pequena bacia de pedra e molhou seu rosto uma e outra vez. Ela apoiou-se contra a parede, sentiu a pedra fria sob seus pés descalços naquela manhã quente de verão e tentou se recompor.

O sonho parecia tГЈo real. Ela sentia que era mais do que um sonho, que era um verdadeiro aviso de seu pai, uma mensagem. Ela sentiu a urgГЄncia de deixar a Corte do Rei naquele instante e nunca mais voltar.

Ela sabia que era algo que nГЈo podia fazer. Ela tinha de se recompor para recuperar seu raciocГ­nio. Mas cada vez que ela piscava os olhos, ela via o rosto de seu pai, sentia sua advertГЄncia. Ela tinha de fazer alguma coisa para borrar aquele sonho da sua mente.

Gwen olhou para fora e viu o primeiro sol que começava a subir e pensou no único lugar que poderia ajudá-la a recuperar a compostura: o Rio Real. Sim, ela tinha de ir lá.


*

Gwendolyn mergulhou uma e outra vez nas nascentes frias  do Rio Real. Ela prendeu a respiração e meteu a cabeça debaixo d'água. Ela sentou-se na pequena piscina natural esculpida na rocha, oculta nas fontes superiores, as quais ela tinha encontrado e frequentado desde que era criança. Ela manteve sua cabeça sob a água e permaneceu ali, sentindo as correntes frias correndo através de seu cabelo, ao longo do seu couro cabeludo, sentindo como elas lavavam e limpavam seu corpo nu.

Um dia ela tinha encontrado aquele lugar isolado, escondido no meio de um grupo de árvores, no alto da montanha, num pequeno planalto onde a corrente do rio se acalmava e criava uma piscina profunda e de águas tranquilas. As águas do rio acima escorriam para dentro da piscina e transbordavam, continuando a escorrer ainda ali, naquele planalto, onde a correnteza era bem mais suave. A piscina era funda, suas pedras eram lisas e o lugar estava tão bem escondido, que ela podia tomar banho nua com total tranquilidade. Ela ia ali quase todas as manhãs durante o verão, quando o sol ainda estava nascendo, para arejar sua cabeça. Era especialmente em dias como aquele, quando os sonhos a atormentavam, tal como eles sempre faziam, que ela encontrava um refúgio naquele lugar.

Era tГЈo difГ­cil para Gwen saber se tinha sido apenas um sonho, ou se seria algo mais. O que ela precisava fazer para saber quando um sonho era uma mensagem ou um pressГЎgio? O que fazer para saber se era apenas sua mente brincando com ela, ou se ela estava recebendo uma oportunidade para tomar medidas?

Gwendolyn subiu em busca de ar, respirando na manhã quente de verão e ouvindo os pássaros gorjeando nas árvores ao seu redor. Ela sentou-se em uma borda natural da piscina e encostou-se na rocha, seu corpo estava imerso na água até o pescoço. Ela ficou ali pensando. Ela estendeu as mãos e jogou água em seu rosto, em seguida, passou as mãos pelo seu cabelo longo, e loiro. Ela olhou para a superfície cristalina da água que refletia o céu; o segundo sol que já estava começando a subir; as árvores que se curvavam sobre a água e o seu próprio rosto. Seus olhos amendoados e de um azul brilhante olharam de volta para ela a partir do reflexo ondulante da água. Ela podia ver algo de seu pai em si mesma. Ela virou-se, pensando outra vez em seu sonho.

Ela sabia que era perigoso para ela permanecer na Corte do Rei depois do assassinato de seu pai, com todos os espiões, todos os complots e especialmente, com Gareth como rei. Seu irmão era imprevisível. Vingativo. Paranóico. E muito, muito invejoso. Ele via a todos como uma ameaça, especialmente a ela. Tudo podia acontecer. Ela sabia que não estava segura ali. Ninguém estava.

Mas ela não era mulher de fugir. Ela precisava saber com certeza quem era o assassino de seu pai e se fosse Gareth, ela não podia fugir, até que ela o entregasse à justiça. Ela sabia que o espírito de seu pai não iria descansar até que seu assassino fosse capturado. Justiça tinha sido o seu grito de guerra toda a sua vida e seu pai, melhor que ninguém, merecia que se fizesse justiça por ele, mesmo depois que ele estivesse dormindo na morte.

Gwen pensou novamente no encontro dela e de Godfrey com Steffen. Ela tinha certeza de que Steffen estava escondendo alguma coisa e se perguntava o que seria. Uma parte dela sentia que ele poderia abrir-se no seu devido tempo. Mas e se ele nГЈo fizesse isso? Ela sentia a urgГЄncia de encontrar o assassino de seu pai, porГ©m nГЈo sabia onde mais procurГЎ-lo.

Gwendolyn finalmente se levantou de seu assento sob a ГЎgua e subiu pela borda, ela estava nua e tremia com o ar da manhГЈ, ela se escondeu atrГЎs de uma ГЎrvore grossa e estendeu a mГЈo para pegar a toalha que havia deixado sobre um galho, tal como ela sempre fazia.

No entanto, quando ela chegou atГ© o galho, ficou chocada ao descobrir que sua toalha nГЈo estava lГЎ. Ela ficou ali, nua, molhada, sem conseguir entender nada. Ela estava certa de que tinha pendurado a toalha ali, como era seu costume.

Enquanto ela permanecia ali, desconcertada, tremendo, tentando entender o que tinha acontecido, de repente, ela sentiu um movimento atrás dela. Tudo aconteceu tão rápido, um borrão e um instante depois, seu coração quase parou quando ela percebeu que havia homem atrás dela.

Tudo aconteceu muito rápido. Em segundos, o homem estava atrás dela. Ele vestia uma capa preta e capuz, exatamente como em seu sonho. O homem agarrou-a por trás, estendeu uma mão ossuda e apertou-a sobre a boca de Gwen silenciando seus gritos enquanto a segurava com força. Com a outra mão ele a agarrou pela cintura, puxou-a para mais perto e levantou-a do chão.

Ela chutava o ar, tentando gritar, até que ele a colocou no chão, ainda segurando-a com força. Ela tentou libertar-se de suas mãos, mas o homem era muito forte. Ele estendeu a mão e Gwen viu que ele segurava um punhal com um punho brilhante e vermelho, o mesmo que ela havia visto em seu sonho. Tinha sido um aviso, depois de tudo.

Gwen sentiu a lâmina pressionando sua garganta, o homem a apertava com tanta força que se ela se movesse em qualquer direção, sua garganta seria cortada. As lágrimas rolaram por seu rosto enquanto ela lutava para respirar. Ela estava tão furiosa consigo mesma. Ela tinha sido tão estúpida. Ela deveria ter sido mais vigilante.

“Reconhece meu rosto?” Ele perguntou.

Ele se inclinou para a frente e ela sentiu seu bafo quente e horrível, ela viu o perfil dele. O coração dela parou – era o mesmo rosto do sonho dela, o homem que tinha um olho só e uma cicatriz.

“Sim.” Ela respondeu com voz trêmula.

Era um rosto que ela conhecia muito bem. Ela não sabia seu nome, mas sabia que ele era um matador. Um tipo de classe baixa, um dos vários que vivia em torno de Gareth desde que ele era criança. Ele era o mensageiro de Gareth. Gareth sempre o enviava quando desejava assustar, torturar ou matar alguém.

“Você é o capacho de meu irmão.” Ela disse para ele desafiante.

Ele sorriu, revelando a falta de alguns dentes.

“Eu sou o mensageiro dele.” Disse ele. “E minha mensagem vem acompanhada por uma arma especial para ajudar você a se lembrar dela. A mensagem para você, hoje, é que pare de fazer perguntas. É uma mensagem que você vai saber de cor, porque quando eu terminar com você, a cicatriz que vou deixar nesse seu rosto lindo vai fazer com que você se lembre da mensagem pela vida inteira.”

Ele fungou, então, levantou a faca bem alto e começou a baixá-la em direção ao rosto dela.

“NÃO!” Gwen deu um grito.

Ela se preparou para o corte que mudaria sua vida.

Mas enquanto a lГўmina descia algo aconteceu. De repente, um pГЎssaro gritou, descendo do alto dos cГ©us e mergulhando direto para o homem. Ela olhou para cima e o reconheceu no Гєltimo segundo:

Estopheles.

O falcГЈo desceu com suas garras projetadas para fora e arranhou o rosto do homem fazendo-o derrubar o punhal.

O punhal tinha apenas raspado o rosto de Gwen, que ardia de dor, quando de repente, mudou de direção; o homem gritou, deixando cair o punhal e levantando as mãos. Gwen viu um raio de luz branco no céu, o sol brilhava por trás dos galhos e quando Estopheles voou para longe, ela soube, ela simplesmente soube que o falcão tinha sido enviado por seu pai.

Gwen não perdeu tempo. Ela virou-se, inclinou-se para trás e tal como seus treinadores a tinham ensinado a fazer, chutou fortemente o homem no plexo solar, fazendo pontaria perfeita com o pé descalço. O homem tombou, sentindo a força de sua perna enquanto ela dirigia seu chute certeiro a ele. Graças às repetitivas lições de seus treinadores, Gwen tinha incorporado técnicas de combate desde que era mais jovem. Ela havia aprendido que não precisava ser forte para se defender de um atacante. Ela só precisava usar seus músculos mais fortes, as coxas, e apontar com precisão.

Enquanto o homem estava ali, tombado, Gwen deu um passo Г  frente, agarrou a parte de trГЎs do cabelo dele e levantou o joelho novamente e golpeou com precisГЈo milimГ©trica o cavalete do nariz.

Ela ficou satisfeita quando ouviu um estalo e sentiu o sangue quente do homem jorrar e derramar-se sobre a perna dela, manchando-a. Quando ele caiu no chГЈo, ela sabia que tinha quebrado o nariz dele.

Ela sabia que deveria acabar com aquele homem de uma vez por todas, pegar o punhal e mergulhá-lo no coração dele.

PorГ©m ela estava ali nua e seu instinto foi o de vestir-se e sair rГЎpido dali. Por mais que ele merecesse, Gwen nГЈo queria sujar suas mГЈos com o sangue dele.

EntГЈo, ao invГ©s disso, Gwen se abaixou, pegou o punhal, atirou-o no rio e logo se cobriu com suas roupas. Ela preparou-se para fugir, mas antes disso, ela se virou para trГЎs, se dobrou, e chutou o homem na virilha o mais forte que podia.

Ele gritou de dor e se enrolou como uma bola, como um animal ferido.

Ela estava tremendo interiormente, sentindo que tinha estado muito perto de ser morta, ou pelo menos de ser mutilada. Ela sentiu o corte ardendo-lhe no rosto e percebeu que ele provavelmente deixaria alguma cicatriz, porém ela seria leve. Gwen sentia-se traumatizada. Mas ela não demonstraria isso. Porque, ao mesmo tempo, ela também sentia uma nova força brotando dentro de si, a força de seu pai, a força de sete gerações de reis MacGil. Então, pela primeira vez, ela percebeu que também era forte. Tão forte quanto seus irmãos. Tão forte quanto qualquer um deles.

Antes que ela se virasse para ir embora, ela inclinou-se bem perto do homem para que ele pudesse ouvi-la em meio aos seus gemidos.

“Chegue perto de mim novamente…” Ela rosnou para o homem. “… E eu mato você.”




CAPГЌTULO DEZ


Thor sentia que estava sendo sugado para baixo d’água e sabia que dentro de instantes, ele mergulharia nas profundezas e se afogaria, isso se ele não fosse comido vivo primeiro. Ele orou com toda a sua alma.

Por favor, nГЈo me deixe morrer agora. NГЈo aqui. NГЈo neste lugar. NГЈo pelas mГЈos desta criatura.

Thor tentou convocar seus poderes, quaisquer que fossem. Ele tentou com toda intensidade, desejando que a energia especial fluГ­sse atravГ©s dele, para ajudГЎ-lo a derrotar aquela criatura. Ele fechou os olhos e desejou veementemente que os poderes funcionassem.

Mas os poderes nГЈo vieram quando ele os invocou. NГЈo aconteceu nada. Ele era apenas um garoto normal, sem poderes, como todo mundo. Onde estavam seus poderes quando ele mais precisava deles? Seriam reais? Ou serГЎ que todas as outras vezes tinham sido apenas um golpe de sorte?

Enquanto ele estava começando a perder a consciência, uma série de imagens passou por sua mente. Ele viu o rei MacGil, como se ele estivesse ali ao seu lado, cuidando dele; ele viu Argon; e então viu Gwendolyn. Foi esse último rosto que lhe deu razão para viver.

De repente, Thor ouviu um ruído de água salpicando atrás dele, em seguida, ouviu o grito da criatura. Ele virou-se pouco antes de descer a superfície e viu Reece na água ao lado dele. Sua espada estava desembainhada e ele segurava a cabeça decepada da criatura na mão. A cabeça da criatura, separada de seu corpo, continuava a gritar, enquanto o sangue amarelo jorrava de seu corpo.




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